quinta-feira, 18 de junho de 2020

O cristão e o uso do pircing

                                             O CRISTÃO E O PIERCING


Esse uso pode se perder em uma memória atemporal,estando presente em todas as culturas e tempos.
Na Africa negra por exemplo,o corpo nu precisa ser marcado para existir: anéis,pinturas, escarificações e mutilações cobrem o corpo para darem identidade de pertença.

Sem esses elementos a nudez o deixaria vulnerável.

Nessas culturas além de ornamentais,elas tem a função de reconhecimento social e religioso.

Mas e o uso do piercing na cultura ocidental?Se foram amplamente usados,porque causam esse mal estar e aí entra o que o cristianismo encara sobre o corpo,que aponta para a Idade Média,o que se chama de análise iconográfica,associando marcas no corpo e o que designava herege, judeu,prostituta,carrasco,leproso etc ...todos que situavam à margem da prática cristã ou que podiam quebrar a representação cultural do imaginário da época como "imagem e semelhança de Deus"

É interessante frisar os efeitos de retorno do recalcado que é posto em ato em cada época.

Se o uso de marcas corporais está posta em uso desde o início pelos humanos,é inegável que o cristianismo reorienta esse uso a partir da colocação em causa da "sacralização do corpo",fazendo marcar aqueles que eram marginais à comunidade da fé.

Foi posto o uso de brinco para marcar a mulher judia por exemplo.Um estigma incorporado aos poucos,que passou a fazer parte primeiro do uso dos nobres e depois de uma forma abrangente. ( kkkk quem hoje identificaria o piercing na orelha,ou o famoso brinco como sendo um piercing em outras partes do corpo?)

Que efeito de retorno o cristianismo a partir da idade média como indicação do marginal na relação a sacralização do corpo,estando mais ligadas essa prática ao marginal no olhar ocidental mais ligadas à mutilação do que a ornamental.

É interessante a inversão de cada época:

O anel por exemplo,passa por evoluções e inversões.Se a imagem de marginalidade permanece,marca imposta pela Idade Média deslizou,pouco a pouco para uma distinção  reivindicada por alguns dos nossos contemporâneos .

Na nossa mentalidade o piercing está relacionado ao primitivo tribal ( o pior que uma grande maioria que usa reivindica à um retorno tribal )

Essa inversão se dá porque tudo que representa o Outro surpreende e maravilha,enquanto ontem assustava.A busca dessa marca hoje funciona como uma busca de diferenciação,de construção de identidade por aquilo que distingue.Isso pode ser tomado na diferenciação à cirurgia plástica,que é uma intervenção no corpo,buscando uma mudança de imagem.

                                                TATUAGEM

A tatuagem encontra seu uso também na antiguidade pelo uso ocidental,incorporada por um uso marginal e como o pircing adquire status de identidade,buscada principalmente pelos jovens.

A tatuagem traz uma marca mais acentuada de marca e mais que ornamental,surgindo como necessidade de produção de traços no real: seja nos ossos da caça ( abordado por produções lacanianas a respeito de um primeiro traço simbólico,chamado de traço unário) ou para marcar a pertença de um corpo.

Tatuar não é somente pintar-se,mas também escarificar (furar derme introduzindo pigmentos),compondo assim uma marca definitiva,tendo uma dupla função:

1. Coletivizar
2. Singularizar

Pierre e Guillon na obra "Os homens ilustrados" contam sobre os raros sobre vários trabalhos que abordaram na história e significados de tatuagens nas diferentes culturas ,tentando dar dignidade na cultura ocidental,que foi marginalizada pela proibição e proscrição de seu uso.Eles ligam o uso de tatuagem às seguintes representações :

1. Marca de identidade

Encontradas em várias sociedades com diferentes significações ( nobres guerreiros, escravos, estrangeiros,prostitutas,párias etc...

2. Marca religiosa 

Marcava tanto adeptos como hereges e nas religiões primitivas como proteção de maus espiritos 

3. Parte cerimonial 

Como marca de passagem de um estado ao outro,como mudança de identidade social (adolescência etc ),acompanhado de mudança de nome ( conheçemos muito no judaísmo a circuncisão,que na época era uma mutilação no corpo )

Assim nas sociedades em que a tatuagem representava um ritual,destaca-se as seguintes funções:tatuagem social( representação do totem do sujeito),tatuagem comemorativa ( puberdade etc),tatuagem de luto ( morte do parente ou amigo ),tatuagens mágicas ( proteção etc ),tatuagens terapêuticas(tratamento de artrite etc),tatuagens ornamentais. ( Na Polinésia esse uso é conservado).

Essa breve introdução é para mostrar que em todos os lugares e sociedades,marcas corporais foram e são usadas.Desde as sociedades totêmicas e animistas até a sociedade ocidental.

A vigência do monoteísmo proibiu seu uso.As marcas corporais apresenta registros contraditórios de enobrecimento e degradação.

Desde o tempo das cruzadas houve fascínio pelo estrangeiro,sendo definido como fora da cultura.

Na época das grandes navegações,surge a curiosidade  taxonômica e "espécimes"de homens tatuados são expostos à um saber científico,ordenador da realidade e por meio de marinheiros dá-se o retorno disso.

Como na Idade Média as marcas corporais representavam infâmia,uma prescrição social de desonra e o retorno do uso no Ocidente se dá pela busca ativa por um valor marginal.

A partir do século XIX vários setores da sociedade passam a usar de forma por iniciativa própria,como uma forma de organização própria contemporânea,onde o marginal passa a ter valor pela exceção que se constitui socialmente e isso dissemina entre os jovens

Como entender esse peculiar proscrito ocidental?


                                       BORDAS CORPORAIS E BORDAS SOCIAIS

Tatuagem,piercing,escarificações são formas de fazer bordas.
Borda é a relação que situa as fronteiras corporais.
Parecia ao longo da história que seria necessária a reconstituição,o recorte insistente das bordas do corpo.
Essas bordas tem a ver com a relação com o ambiente,com o outro e com a realidade.
Nosso olhar se compõe o nosso olhar,são as bordas que fazem com que possamos ver ou seja ter essa imagem que nos vê de fora e registramos como se fosse nossa .
Furar,recortar o corpo não são consideradas das sociedades ditas primitivas,mas fazem parte da história adequando-se à diferentes culturas.

O que chama a atenção tanto no piercing como na tatuagem é sua dupla condição:
. Fazer orifício
. Acrescentar elementos ao organismo como compondo o próprio corpo

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