"E OUVE TREVAS SOBRE A TERRA" Mateus 27:45
Estamos à beira da cruz e da vergonha,e Mateus narra nesse capítulo p último ato do terror de Judas,o qual sente espanto do terror que tinha feito.Judas tomou o dinheiro e o jogou no templo, e o interessante
é que a palavra que emprega não é a que designa os recintos do templo
em geral (hieron), mas sim a que se refere ao templo propriamente dito
(naos).Lembraremos que o templo constava de uma série de pátios que
se abriam uns sobre outros.
Em seu cego desespero Judas chegou ao
Pátio dos Gentios, passou através dele até o Pátio das Mulheres, daí foi
ao Pátio dos Israelitas; não poderia ir mais longe, tinha chegado ao limite
que separava o Pátio dos Sacerdotes, com o próprio templo no extremo.
Pediu-lhes que recebessem o dinheiro; mas não quiseram fazê-lo, tomou
e o lançou, logo saiu correndo e se enforcou . Sem dúvida o suicídio de Judas é a indicação final de que seu plano
tinha fracassado.
Aqui nos encontramos com duas grandes verdades sobre o pecado.
(1) O mais terrível sobre o pecado é que não podemos voltar atrás.
Não podemos desfazer o que já fizemos. Não se precisa ser muito velho
para experimentar esse desejo terrível e urgente de poder voltar a viver
algum momento determinado. O relembrar que não podemos voltar atrás
em nenhuma ação, deveria nos fazer duplamente cuidadosos de como
procedemos.
(2) O que é estranho sobre o pecado é que alguém pode chegar a
odiar aquilo que obteve por meio desse mesmo pecado. O prêmio que se
obteve por meio do pecado pode produzir desgosto, espanto e repulsa,
até que o único desejo da vida é fazê-lo desaparecer dela. A maior parte
das pessoas pecam porque acreditam que se puderem possuir a coisa
proibida será feliz. Mas aquilo que o pecado desejava e obteve pode
converter-se naquilo do qual o homem daria algo para livrar-se – e com
muita freqüência não pode fazê-lo.
Neste lugar, Mateus cita de cor, e a citação não
pertence a Jeremias, e sim a Zacarias. Procede de uma estranha
passagem (Zacarias 11:10-14) na qual o profeta nos relata que recebeu
uma recompensa indigna e a lançou ao tesouro. Nessa velha imagem
Mateus viu uma semelhança simbólica com o que Judas tinha feito.
Como Judas se empenhou muito em seguir seu próprio caminho, morreu como suicida.
Os dois primeiros versículos desta passagem descrevem o que deve
ter sido uma reunião muito breve do Sinédrio, celebrada a uma hora bem
cedo de manhã, com a intenção de formular uma acusação oficial contra
Jesus.
De maneira que o
Sinédrio devia formular uma acusação com a qual pudesse ir a Pilatos e
exigir a morte de Jesus. Mateus não nos diz qual foi a acusação, coisa
que Lucas o faz. No Sinédrio, a acusação que se levantou contra Jesus
foi um acusação de blasfêmia (Mateus 26:65-66).
Conforme nos diz Lucas (23:2), apareceram diante de
Pilatos com uma acusação tripla, cada uma de cujas partes era uma
mentira, uma flagrante mentira.
1)Acusaram a Jesus, em primeiro lugar, de
ser um revolucionário,
2) Acusaram Jesus em segundo lugar, de incitar as pessoas a não
pagar impostos
3) Acusaram Jesus por último, de afirmar que era rei
Fabricaram três acusações políticas, cada uma delas uma mentira
consciente, porque sabiam que Pilatos agiria só a partir desse tipo de
acusações. De maneira que tudo ficou dependente da atitude de Pilatos.
Pilatos era o procurador da província e era
responsável em forma direta, não diante do Senado romano, e sim diante
do Imperador.Um
homem de bastante experiência porque teria que galgar uma série de
posições, entre elas o comando militar, até estar preparado para tornar-se
governador. Pilatos deve ter sido um soldado e administrador que tinha
passado por todas as provas necessárias.
A reputação de
Pilatos entre os judeus era algo terrível e o fato de que estes pudessem
denunciá-lo fazia com que sua posição fosse completamente insegura.
A lenda conta que terminou
suicidando-se,quando Pilatos se dirigia a Roma para ser julgado devido uma selvageria contra os samaritanos .
Em um relatório que não é mais que uma lenda, mas
não se pode questionar o seguinte: Pilatos sabia que Jesus era inocente,
mas suas más ações anteriores deram aos judeus uma alavanca para
obrigá-lo a fazer o que lhe pediam, embora ia contra seu melhor juízo e
seu sentido da justiça.
Inicia-se a espantosa rotina da crucificação.
A última seção
terminou dizendo que Pilatos mandou açoitar a Jesus.
O açoite romano
era uma tortura terrível. Despia-se a vítima, atavam-se suas mãos atrás e
o amarravam a um poste com as costas curvadas e expostas ao açoite. O
látego era uma larga tira de couro ao longo da qual havia pedaços de
osso afiados e bolas de chumbo. Os açoites sempre precediam à
crucificação e "reduziam o corpo nu a farrapos de carne e feridas
inflamadas e sangrantes". Alguns morriam pelos açoites, outros perdiam
a razão, e eram poucos os que permaneciam conscientes depois de tê-los
recebido.
Depois disso Jesus foi entregue aos soldados .
Levaram-no a seus barracos no quartel do governador e chamaram
o resto do destacamento. No destacamento, chamado speira, havia
seiscentos homens.(Estes soldados constituíam a guarda pessoal de Pilatos que o
tinham acompanhado desde Cesaréia, onde tinha sua residência
permanente )
O que os soldados fizeram pode nos fazer estremecer.Estes
soldados eram recrutas que podiam provir do outro extremo do mundo e
se divertiam com suas brincadeiras pesadas.
Possivelmente isto foi o mais fácil de Jesus aguentar, porque embora o disfarçaram de rei; não havia
ódio em seu olhar. Para eles, não era mais que um galileu meio louco
que ia à cruz.Zombaram dele como se zomba de um menino imbecil,isso é o que
representava Jesus para os soldados.
Depois se prepararam para levá-lo à crucificação.
Podemos tentar chegar a uma imagem vívida do que Jesus fez e
sofreu por nós.
A
crucificação é a morte mais terrível e cruel imaginada pelos homens para
vingar-se de seu próximo.A tortura mais cruel e
horrível,uma tortura só digna de escravos .
Originou-se em Pérsia devido ao fato de que considerava-se que a terra era sagrada
para o Ormuz, o deus, e se erguia o criminoso para que não manchasse a
terra, que era propriedade do deus. Da Pérsia passou a Cartago no norte
da África. Roma a copiou de Cartago embora só a reservava para os
rebeldes, os escravos que escapavam e a classe mais baixa de criminais.
De fato, era um castigo ilegal de infligir a um cidadão romano.
Fixava-se à cruz o criminoso,
convertido já em uma massa de sangue devido aos açoites. Aí
permanecia pendurado para morrer de fome, sede e pelo calor do Sol,
incapaz de defender-se sequer da tortura das moscas e mosquitos que
posavam sobre seu corpo nu e sobre suas feridas sangrantes.
Não é uma
imagem agradável, mas foi isso o que Jesus sofreu voluntariamente por
nós.
A narrativa da cruz diz por si só o que seria,mas podemos apresentar
o pano de fundo para que a imagem seja o mais claro possível.
Quando um criminoso era condenado, era levado à crucificação. Era
situado em meio de um quadrado vazio formado por soldados romanos.
O costume era que carregasse o lenho horizontal de sua própria cruz; o
vertical o esperava no cenário da crucificação. A acusação pela qual a
pessoa era executada se escrevia sobre uma madeira, depois era
pendurada em volta do pescoço ou um soldado o levava diante da
procissão e logo era fixado à cruz. O criminoso era levado ao lugar da
crucificação pelo caminho mais longo possível para ser visto pela maior
quantidade de gente e a lúgubre cena lhes servisse de advertência. Jesus
passou pelos espantosos açoites, depois suportou as zombarias dos
soldados, antes disso o tinham interrogado durante a maior parte da
noite: estava fisicamente exausto e cambaleava sob a cruz.
Os soldados romanos sabiam muito bem o que deviam fazer nesses
casos. Palestina era um país ocupado; tudo o que o soldado romano tinha
que fazer era tocar um judeu no ombro com a ponta de sua lança e o
homem devia fazer qualquer coisa que lhe fosse ordenado, por mais
baixa e desagradável que fosse.
De Cirene (norte da África ),Simão que durante anos economizou dinheiro
para assistir a esta Páscoa, e agora caía sobre ele esta vergonha e
indignidade; porque o obrigaram a carregar a cruz de Jesus.Quando
Marcos conta a história identifica a Simão como o "pai de Alexandre e
de Rufo" (Marcos 15:21). O único sentido da identificação pode ser que
Alexandre e Rufo fossem conhecidos na Igreja. E deve ser que nesse dia
trágico Jesus se apoderou do coração de Simão. O que para ele era como
o dia de sua vergonha se converteu em seu dia de glória.
O lugar da crucificação era um monte chamado Gólgota, porque
tinha a forma de uma caveira. Quando se chegava ao lugar era preciso
empalar o criminoso sobre sua cruz. Sus mãos eram atravessadas com
pregos, mas em general os pés eram atados frouxamente à cruz. Nesse
momento, e para adormecer sua dor, davam-lhe a beber vinho drogado,
preparado por um grupo de mulheres abastadas de Jerusalém como um
ato de misericórdia. Um escrito judeu diz: "Quando se leva a um homem
para matá-lo, deve-se permitir que beba um grão de incenso em uma taça
de vinho para adormecer seus sentidos... As mulheres abastadas de
Jerusalém costumavam doar estar coisas e levá-las ao lugar." A taça
drogada foi oferecida a Jesus mas Ele se recusou a bebê-la, porque se
propôs aceitar a morte em seu aspecto mais amargo e lúgubre e não
evitar nem a mais mínima dor.
Os criminosos eram
crucificados nus, à exceção de uma tanga e a roupa do criminoso passava
a ser propriedade dos soldados como pagamento.
Todo judeu levava
cinco coisas: os sapatos, o turbante, o cinturão, a túnica interior, e a capa
exterior. De maneira que havia cinco artigos e quatro soldados. Os
primeiros quatro artigos eram todos do mesmo valor, mas a capa era
mais valiosa que todos os outros. Os soldados lançaram sortes pela capa
de Jesus, conforme relata João (João 19:23-24). De maneira que quando
os soldados terminaram de repartir a roupa se sentaram a montar guarda
até que chegasse o fim.
Os últimos versículos desta seção descrevem as zombarias e piadas
que dirigiram a Jesus os que passavam por ali, as autoridades judaicas e
os ladrões crucificados a seu lado. Todas as zombarias se centravam ao
redor de uma coisa: as afirmações feitas por Jesus e sua aparente
impotência na cruz.
Usavam a glória de Cristo para zombar dEle. Diziam:
“Desça da cruz, e creremos nEle.”
Os judeus só podiam ver Deus em meio ao poder, mas Jesus
mostrou aos homens que Deus é amor sacrificial.
Marcos é o mais exato em sua menção do tempo. Diz-nos que crucificaram a Jesus na terceira hora, quer dizer às nove da
manhã (Marcos 15:25), e que morreu na hora nona, quer dizer, às três da
tarde (Marcos 15:34). Isso significa que Jesus esteve pendurado na cruz
durante seis horas. A agonia de Jesus foi breve, porque sucedia que os
criminosos ficavam pendurados de suas cruzes durante dias até que a
morte tivesse piedade deles.
"E OUVE TREVAS SOBRE A TERRA"
TRÊS HORAS DE TREVAS...
“E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona” (Mateus 27:45)
Desde as nove da manhã até ao meio-dia, a luz do Sol iluminou com toda sua intensidade usual; de tal forma que os adversários de nosso Senhor tiveram tempo suficiente para contemplar e insultar Seus sofrimentos.
Não poderia haver nenhum equivoco a respeito do fato de que Ele estava realmente cravado na cruz. Pois, Ele foi crucificado em plena luz do dia. Estamos plenamente convencidos que foi Jesus de Nazaré, já que tanto seus amigos como seus inimigos foram testemunhas oculares de Sua agonia: durante três longas horas os judeus estiveram sentados ali o contemplando na cruz, zombando de Suas misérias.
Quando Jesus morreu houve uma escuridão. Foi como se o
próprio Sol não suportasse olhar o que as mãos do homem tinham feito.
O mundo está sempre escuro quando os homens procuram eliminar e
destruir a Cristo .
Dou graças por essas três horas de luz. Do contrário, os inimigos de nossa fé teriam questionado se verdadeiramente o corpo bendito de nosso Senhor foi cravado na cruz, e haveriam dado motivo a inumeráveis fantasias, tão abundantes como os morcegos e as corujas que rondam na escuridão. Onde estariam as testemunhas dessa solene cena se o sol estivesse oculto desde manhã até de noite? Posto que três horas de luz proporcionaram a oportunidade de que se verificasse e de que se pudesse dar testemunho do fato, vemos nisso a sabedoria que não permitiu que a luz se dissipará tão rapidamente.
Nunca percam de vista que esse milagre de fechar os olhos do dia, exatamente ao meio-dia, foi realizado por nosso Senhor em Sua debilidade. Ele havia caminhado sobre o mar, ressuscitado mortos, e sarado aos enfermos nos dias de Sua força; porém, agora, decaiu baixíssimo, tem febre, sem forças e sedento. Ele se movimenta nos limites da dissolução; no entanto, possui o poder de escurecer o sol exatamente ao meio-dia. Ele é ainda verdadeiro Deus de verdadeiro Deus.
Se Ele pode fazer isso em Sua debilidade, o que não poderá fazer em Seu poder? Não esqueçam que esse poder foi desdobrado em uma área na que Ele usualmente não manifestou Sua força. A área de Cristo é de bondade e benevolência, e conseguintemente, de luz. Quando Ele adentra nas áreas de convocar à escuridão ou de chamar à juízo, Ele ocupa-se daquilo que Ele nomeia Sua estranha obra. As obras de Sua mão esquerda são maravilhas de terror. Somente de vez em quando que Ele faz com que o sol se oculte ao meio-dia, ou escurece a terra em dia claro (Amós 8:9).
Se nosso Senhor pôde trazer a escuridão ao morrer, que glória não poderíamos esperar agora que Ele vive para ser luz da cidade de Deus para sempre? O Cordeiro é a luz, e que luz! Os céus mostram as pistas de Seu poder agonizante, e perdem seu brilho. Por acaso os novos céus e a nova terra não darão testemunho do poder do Senhor ressuscitado? As densas trevas que rodeiam ao Cristo moribundo são as vestes do Onipotente: Ele vive outra vez, e tem todo o poder em Suas mãos, e todo esse poder o empregará para abençoar Seus eleitos.
Que chamado deve ter sido para os despreocupados filhos dos homens, esse meio-dia convertido em meia-noite! Eles não sabiam que o Filho de Deus estava em meio deles; nem que Ele estava cumprindo a redenção humana. A hora mais grandiosa de toda a história humana dava a impressão que passaria sem que se a notasse, quando, subitamente, a noite saiu apressadamente de suas habitações e usurpou o dia. Todo mundo perguntou a seu companheiro: “o que essa escuridão significa?”. Os negócios foram paralisados: o arado ficou no meio do sulco e o machado não pode ser alçado. Era meio-dia, justo quando os homens encontram-se mais ocupados; porém, todos eles fizeram uma pausa geral. Não só no Calvário, mas também em todas as colinas, e em cada vale, as trevas baixaram. Houve um hiato na caravana da vida. Ninguém podia se mover exceto buscando seu caminho as apalpadas, tal como os cegos o fazem. O dono da casa pediu que a luz fosse acesa ao meio-dia, e o servente, tremendo, obedeceu essa ordem inusitada. Outras luzes também brilhavam, e Jerusalém era uma cidade submersa na noite, mas os homens não estavam em suas camas. Como a humanidade estava surpreendida! Em volta desse grandioso leito de morte conseguiu-se uma quietude apropriada. Não duvido que um gélido terror apoderou-se das massas das pessoas, e que os homens prudentes anteciparam coisas terríveis. Os que tinham permanecido ao redor da cruz, e se atreveram a insultar a majestade de Jesus, estavam paralisados de terror. Eles cessaram com sua obscenidade e deixaram de cruelmente se alegrarem. Até mesmo os mais vis deles estavam atemorizados, ainda que não convencidos – os demais “se golpeavam nos peitos”. Os que puderam, sem dúvida, foram tremulantes para suas casas trataram de se esconder, por medo dos terríveis juízos que, temiam, teriam que encarar.
Não me surpreende que existam tradições de coisas estranhas que foram ditas no silêncio dessas trevas. Esses sussurros do passado podem ou não ser verdadeiros; foram tema de controvérsia dos estudiosos, porem o esforço da disputa foi energia mal gasta. No entanto, não nos surpreenderia que alguém tenha dito, como afirmam alguns repórteres: “Deus está sofrendo ou o mundo está perecendo”. Nem irei eliminar de minhas crenças a lenda poética que afirma que o piloto egípcio de um barco, navegando rio abaixo entre seus bancos cheios de juncos, escutou uma voz que saia da sussurrante flora, dizendo: “O grandioso Pão morreu”. Em verdade, o Deus da natureza estava expirando, e coisas ainda mais ternas que os juncos da ribanceira tremeriam diante desse som.
Somos informados que essas trevas cobriram toda a terra; e Lucas diz: “sobre toda a terra”. Essa parte de nosso globo na que correspondia à noite natural, não foi afetada; porém, para todos os homens que estavam despertos, e que se encontravam em seus trabalhos, era o aviso de um grandioso e solene evento. Era estranho além de toda experiência, e todos os homens se maravilharam; pois, quando a luz devia de ter tido maior brilho, todas as coisas foram escurecidas pelo espaço de três horas.
Deve existir um grande ensino nessas trevas; pois quando nos aproximamos da cruz, que é o centro da história, cada evento está repleto de significado. Luz saltará dessas trevas. Amo sentir a solenidade das três horas de sombras de morte, assentar-me ali e meditar, sem nenhuma companhia, exceto ao Augusto Sofredor, em cujo redor desceram as trevas. Irei apresentar quatro pontos, segundo o Espírito Santo me guie. Primeiro, inclinemos nossos espíritos na presença de um milagre que nos assombra; em segundo, consideremos essas trevas como um véu que esconde; em terceiro, como um símbolo que instrui; e em quarto lugar, como um demonstração de simpatia, que nos serve de advertência pelas profecias que implica.
I. Em primeiro lugar, contemplemos essas trevas como UM MILAGRE QUE NOS ASSOMBRA.
No versículo 46 temos a frase que deve aparecer a qualquer um
como a mais assombrosa de todo o relato evangélico: a exclamação de
Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Trata-se de
uma frase ante a qual só podemos baixar a cabeça em sinal de respeito.
Entretanto, devemos buscar entendê-la.
Houve muitos intentos de
penetrar o mistério dessa frase; só podemos nos referir a três deles.
(1) É estranha a forma como o Salmo 22 se intercala em todo o
relato da crucificação; e, de fato, esta frase é o primeiro versículo sobre
esse salmo. Quando nos remetemos a ele, vemos que o salmista diz:
“Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e
meneiam a cabeça: Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele
tem prazer” (Salmo 22:7-8). Quando continuamos lendo o mesmo salmo
vemos que diz: “Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes” (Salmo 22:18).
Esse salmo está entretecido com
toda a história da crucificação.
Agora, sugeriu-se que o que Jesus fazia, na verdade, era repetir esse
salmo em seu íntimo e, embora o salmo começa no abandono mais
absoluto, termina com um triunfo total: “Cantar-te-ei louvores no meio
da congregação... Pois do SENHOR é o reino, é ele quem governa as
nações” (Salmo 22:25-31).
De maneira que se sugere que Jesus repetia
esse salmo na cruz como uma imagem de sua própria situação e como
um cântico de sua confiança e sua fé, visto que sabia muito bem que
começava nas profundezas e terminava nas alturas.
Trata-se de uma
sugestão muito atraente, mas quando se está sobre uma cruz, ninguém
repete poesia no seu íntimo, mesmo que se trate de um salmo; e além
disso, toda a atmosfera do mundo escurecido pertence à tragédia mais
desoladora.
(2) Sugere-se que nesse momento todo o peso dos pecados do
mundo caiu sobre o coração e o ser de Jesus. Que foi nesse momento
quando “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2
Coríntios 5:21); e que o castigo que aguentou por nós foi a inevitável
separação de Deus, a qual produz o pecado. Ninguém pode afirmar que
isso não seja certo, mas se o é, é um mistério que só podemos expor e
diante do qual a única coisa que podemos fazer é nos sentir
maravilhados.
(3) Pode ser que haja algo mais humano aqui, se assim podemos
dizer. Parece-me que Jesus não seria Jesus se não tivesse penetrado nas
mais recônditas profundezas da experiência humana. Agora, na
experiência humana e à medida que passa a vida e nela entra a tragédia,
há momentos, possivelmente um só, nos quais sentimos que Deus se
esqueceu de nós. Segundo minha opinião, isso foi o que aconteceu a
Jesus aqui. Vimos que a única coisa que Jesus sabia no jardim era que
devia seguir adiante, porque essa era a vontade de Deus, e que devia
aceitar aquilo que nem sequer Ele podia chegar a compreender. Aqui vemos a última agonia dessa situação humana. Vemos Jesus
descer às últimas profundezas da situação humana para que não
houvesse lugar que tenhamos que ir ao qual Jesus não tenha estado antes.
É evidente que aqueles que escutavam não entendiam. Alguns
pensavam que chamava Elias; devem ter sido os judeus.
Teria sido terrível que Jesus morresse
com um grito assim nos lábios; mas não o fez. A narração nos diz que
depois de ter dado um grande clamor, entregou o espírito. Esse clamor
deixou uma marca nas mentes dos homens. Aparece em cada um dos
evangelhos (Mateus 27:50; Marcos 15:37; Lucas 23:46). Mas um deles
vai mais longe. João nos diz que Jesus morreu com um grito: “Está
consumado!” (João 19:30). Em grego, essa frase se diz em uma só
palavra – Tetelestai – e o mesmo acontece no aramaico. E essa mesma
palavra é a exclamação do vencedor; a do homem que completou sua
tarefa; a de quem venceu na luta; a de quem saiu da escuridão à glória da
luz e tomou posse da coroa. De maneira que Jesus morreu vitorioso e
conquistador, com um grito de triunfo nos lábios.
Aqui está, pois, o elemento valioso. Jesus passou pelo mais
profundo dos abismos e depois irrompeu a luz.
A REVELAÇÃO FULMINANTE (Mateus 27:51-56)
Esta passagem se divide em três partes.
(1) Temos o relato das coisas surpreendentes que ocorreram quando
Jesus morreu. Quer devamos tomar ao pé da letra ou não, ensinam-nos
duas grandes verdades.
(a) O véu do templo se rasgou de alto a baixo. Tratava-se do véu
que ocultava o lugar santíssimo, além do qual ninguém podia passar com
exceção do sumo sacerdote no Dia do Perdão. Atrás desse véu morava o
Espírito de Deus. Aqui temos um elemento simbólico. Até este momento
Deus tinha estado oculto, era algo remoto, e ninguém O conhecia. Mas
na morte de Jesus vemos o amor escondido de Deus, e o caminho que
uma vez esteve fechado a todos os homens, agora está aberto para que
todos cheguem à presença de Deus. A vida e morte de Jesus nos
mostram como é Deus e tiram para sempre o véu que ocultava Deus dos
homens.
(b) Abriram-se os sepulcros. Este símbolo significa que Jesus
venceu a morte. Ao morrer e ressuscitar, Jesus destruiu o poder da morte.
Devido à sua vida, sua morte e sua ressurreição o sepulcro perdeu seu
poder, a tumba perdeu seu terror e a morte sua tragédia, porque agora
estamos seguros de que, porque Ele vive, nós também viveremos.
(2) Temos o relato da adoração do centurião. Só podemos dizer uma
coisa sobre isto. Jesus havia dito: “E eu, quando for levantado da terra,
atrairei todos a mim mesmo” (João 12:32). Jesus predisse o poder
magnético da cruz, e o centurião foi o primeiro fruto da cruz de Cristo. A
cruz o tinha levado a ver a majestade de Jesus como nenhuma outra coisa
o tinha obtido jamais.
(3) Temos a singela afirmação a respeito das mulheres que viram o
fim. Todos os discípulos O abandonaram e fugiram, mas as mulheres
ficaram. Tem-se dito que, diferente dos homens, as mulheres não tinham
nada a temer porque sua posição era tão baixa que ninguém prestaria a menor atenção às discípulas. Mas há muito mais que isso. Estavam ali
porque amavam a Jesus e, nelas, como em muitos outros, o amor perfeito
tinha feito desaparecer o medo.
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