quarta-feira, 10 de junho de 2020

2 Pedro 3:15-16

                                       FALSIFICADORES DAS ESCRITURAS ( 2 Pedro 3:15-16 )


O autor da carta,falando sobre o que pode "apressar" a vinda do Senhor e "atrasar" a vinda do Senhor,ele cita o apóstolo Paulo,tornando esses versículos de difícil interpretação,levando Calvino a achar que esta carta não foi escrita por Pedro,pois esse jamais falaria de Paulo desta forma,mas o texto diz:

"Considerai que a longanimidade do nosso Senhor é uma oportunidade para que possais receber a Salvação, assim como o nosso amado irmão Paulo também vos escreveu, de acordo com a sabedoria que Deus lhe concedeu. 

Ele escreve do mesmo modo em todas as suas epístolas, discorrendo nelas sobre esses assuntos, nas quais existem trechos difíceis de entender, os quais são distorcidos pelos ignorantes e insensatos, como fazem também com as demais Escrituras para a própria destruição deles."

Pedro cita aqui a Paulo como ensinando as mesmas coisas que ele ensina. 
Pode ser que se refira a que Paulo concorda com ele em que é necessária uma vida piedosa e santa em vista da iminente Segunda Vinda de nosso Senhor. 

Mas é mais provável que se refira a que ambos coincidem em que o fato de que Deus detenha sua mão não deve ser interpretado como demora ou indiferença, mas sim como uma oportunidade para que a raça humano se arrependa, creia no evangelho e aceite a Jesus Cristo. Paulo fala daqueles que desprezam as riquezas da misericórdia e da paciência de Deus e esquecem que sua bondade nos guia ao arrependimento (Romanos 2:4). 

Mais de uma vez Paulo destaca esta tolerância e paciência de Deus (Romanos 3:25; 9:22). 

Tanto Pedro como Paulo concordavam em que a tolerância e a paciência divinas, o fato de que Deus retenha sua mão para não castigar, não têm que ser usados como desculpa para pecar, mas sim como um meio de arrependimento e como uma oportunidade de emenda.

Com sua referência a Paulo e com sua velada crítica a este apóstolo, temos aqui uma das passagens mais enigmáticas do Novo Testamento. 

Mas, em realidade, o que é que podemos aprender desta passagem?

(1) Em primeiro lugar descobrimos que já por este tempo as Cartas de Paulo eram lidas através de toda a Igreja. São mencionadas numa forma que torna evidente que já tinham sido reunidas e publicadas e que, além disso, era possível consegui-las normalmente e eram amplamente lidas. Hoje estamos razoavelmente seguros de que isto não ocorreu até aproximadamente o ano 90 d. C. Ao redor desse ano as Cartas de Paulo foram reunidas e publicadas em Éfeso. Isto significa que esta Epístola, que é Segunda Pedro, não pode ter sido escrita antes e que, portanto, não pode ser realmente obra de Pedro, pelo fato de que este foi martirizado na década do 60 daquele século.

(2) Informa-nos que as Cartas de Paulo tinham chegado a ser consideradas como Escritura. Os inconscientes as desvirtuavam tal como faziam com as outras Escrituras. Isto também leva a provar que Segunda Pedro deve proceder de uma época bastante avançada na história da Igreja primitiva, pelo fato de que teriam sido necessárias várias gerações antes de que as Cartas de Paulo pudessem ser postas ao mesmo nível que os escritos do Antigo Testamento. 

(3) É difícil entender qual é a atitude para com Paulo nesta passagem. Paulo escreve, conforme diz esta Carta "segundo a sabedoria que lhe foi dada". Bigg opina que esta frase pode ser tanto um elogio como uma prevenção. A verdade é que Paulo sofreu a sorte de todos os homens destacados. Teve seus críticos. Experimentou os inconvenientes de todos os que enfrentam sem temor os fatos e declaram a verdade. Havia aqueles que o considerava como grande mas perigoso.

(4) Há coisas — diz esta Carta — que nas Epístolas de Paulo são difíceis de entender e que os ignorantes torcem para sua própria ruína. A palavra traduzida difíceis de entender é dusnoetos. Este termo era usado para referir-se aos pronunciamentos de um oráculo. Como sabemos, as respostas dos oráculos gregos eram sempre ambíguas. 

Temos o clássico exemplo de um rei que estava a ponto de sair para a guerra. Consultou o Delfos e foi dada esta resposta: "Se for à guerra, destruirá uma grande nação." O rei tomou isto como uma profecia segundo a qual ele destruiria a seus inimigos. Mas o que em realidade ocorreu foi que ele foi derrotado e assim, por ir a essa guerra, destruiu a seu próprio país. Este é um exemplo da típica ambiguidade dos antigos oráculos. E esta é a mesma palavra que Pedro emprega para referir-se aos escritos de Paulo. Quer dizer: há nestes algumas coisas que são tão difíceis de interpretar como as respostas dadas pelos oráculos.

Pedro afirma que nos escritos de Paulo não só há pontos difíceis de entender, mas também há coisas que a pessoa pode tergiversar para sua própria destruição. Quais seriam as coisas contidas no pensamento e no ensino de Paulo suscetíveis de ser torcidas, tornando-se algo destrutivo da verdadeira religião? 

Três coisas acodem imediatamente à mente. 

1) A doutrina paulina da graça foi, em realidade, desvirtuada e transformada em desculpa, justificação e até razão para pecar (Romanos 6). 

2)A doutrina da liberdade cristã também foi desvirtuada e transformada em desculpa para cair na libertinagem (Gálatas 5:13). 

3)A doutrina de Paulo com relação à fé foi transformada em argumento para sugerir que a ação cristã não tinha importância, como vemos em Tiago (2:14-26).

G. K. Chesterton  este famoso novelista que a ortodoxia era algo assim como caminhar ao longo de um estreito precipício, quase como o fio de uma faca. Um passo a qualquer dos dois lados era um passo rumo ao desastre. Jesus é Deus e homem; Deus é amor e santidade; o cristianismo é graça e moralidade; o cristianismo vive neste mundo e também vive na eternidade, sublinhemos qualquer lado destas grandes verdades e imediatamente surgirá a destruidora heresia. 

Uma das circunstâncias mais trágicas se produz quando o homem tergiversa a verdade cristã e as Sagradas Escrituras transformando-a em defesa, desculpa e até em razão para fazer o que ele quer e não as aceita como uma guia para fazer o que Deus quer que faça.

                                                       CONCLUSÃO

 Pedro 3:17-18 Aqui, na conclusão, Pedro assinala certas características da vida cristã.

(1) O cristão é uma pessoa que está advertida. Quer dizer: não pode alegar ignorância. Conhece o caminho reto e sua recompensa; conhece também o caminho errado e seu desastroso fim. Não tem direito de esperar uma marcha fácil, porque já percebeu que o cristianismo significa a cruz, que sempre haverá aqueles que estejam dispostos e desejosos de atacar e corromper a fé. Estar advertido é também estar preparado, mas a advertência é também responsabilidade grave pelo fato de que aquele que conhece o bem e faz o mal está sob dupla condenação. 

(2) O cristão é uma pessoa que tem fundamento para sua vida. Deve estar enraizado e baseado sobre a fé. Há certas coisas a respeito das quais está absolutamente seguro. Existe certa inflexibilidade na vida cristã; determinou bases de fé que nunca mudam. O cristão nunca deixará de crer que "Jesus Cristo é Senhor" (Filipenses 2:11). Nunca deixará de estar consciente de que tem a obrigação de fazer com que sua vida concorde com sua crença. 

(3) O cristão é uma pessoa cuja vida está em desenvolvimento. A inflexibilidade da vida cristã não é a rigidez da morte. O cristão tem que experimentar cotidianamente a maravilha da graça; cada dia tem que ir penetrando cada vez mais na maravilha de Jesus Cristo. Unicamente sobre um sólido fundamento pode erguer um elevado edifício; e somente devido a suas profundas raízes pode uma árvore alta elevar seus ramos ao céu. A autêntica vida cristã é, ao mesmo tempo, uma vida com sólido fundamento e em contínuo desenvolvimento, avançando e ascendendo. 

E assim termina a Epístola, dando glória a Cristo, agora e até o fim dos tempos.

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