Os aspectos externos da adoração
João 4:24 "Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”
1 Coríntios 14:26 " Portanto, qual a atitude correta, então? Ora, quando vos reunis, cada um de vós tem um salmo, ou uma mensagem de ensino, uma revelação, ou ainda uma palavra em determinada língua e outro tem a interpretação dessa língua. Tudo seja feito para a edificação da Igreja."
Todos já ouvimos falar do "Regulador do Culto",pelo menos no meio reformado,ele tem sido uma das principais manchetes.Recentemente uma famosa denominação proibiu o uso de manifestações corporais nos cultos.
Diante desse quadro,temos 2 grupos:
1.Um grupo que defende com unhas e dentes o Principio Regulador do Culto e que o aplica da forma mais radical possível proibindo o uso de instrumentos musicais, expressões corporais, apresentações teatrais e o canto de qualquer coisa que não provenha ipsi literis das Escrituras. Geralmente, esses não cantam nada em culto público a não ser os Salmos.
2.O outro grupo é bem maior do que o primeiro; rejeita completamente o Principio Regulador, acusando-o de ir além dos princípios escriturísticos da adoração a Deus. Esses geralmente não são confessionais (não aderem à Confissão de Fé de Westminster), mas ainda permanecem dentro de uma denominação confessional reformada e gastam suas forças combatendo-a.
Pessoalmente, acho que essas duas correntes são extremadas.
O principio por trás do Principio é consistente e correto.
A Confissão de Fé de Westminster define o que é o Princípio Regulador:
“...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.
A palavra “prescrito” tem sido alvo de muitas confusões :
a) Que nada deve ser cantado no culto público a não ser os Salmos.
b) Se quiser usar literatura para cantar, use também orações inspiradas ao dirigir-se a Deus.
O Princípio Regulador de Culto foi criado com 2 objetivos:
1. Eliminar do culto cristão toda idolatria que era presente na missa Católica.
2. Proteger a liberdade de consciência que era constantemente violada pelas liturgias anglicanas
Como poderíamos aplicar este princípio hoje?
Uma coisa é certa:não podemos apenas repetir o que foi feito no século XVI e XVII, reproduzindo literalmente,pois estaríamos contradizendo o próprio lema da reforma: "ecclesia semper reformanda est (a igreja sempre reformando"
Isso significa que devemos continuar a identificar os ídolos e as imposições à liberdade de consciência. Certamente os ídolos que o culto medieval enfrentava eram bem diferentes daqueles que a Igreja de hoje enfrenta. As imposições também são diferentes.Hoje, os ídolos se diferenciam de igreja para igreja e de local para local. A idolatria de uma cultura pode não ser a idolatria de outra e as imposições de uma congregação podem não ser as mesmas de outra congregação.
Quais são alguns dos ídolos hoje?
Esta é uma tarefa muito difícil. De início, é bom estabelecermos que ídolos não são apenas imagens de escultura. Ídolo é tudo aquilo que toma o lugar de Deus. É tudo aquilo que venha obscurecer a Cristo. Exige muita introspecção e sinceridade para darmos nome aos nossos ídolos hoje, mas geralmente os ídolos das nossas comunidades evangélicas se resumem a alguns:
1. Aqueles que transformam o culto num divã da auto-ajuda;
2. Aqueles que transformam o culto numa sala de aula;
3. Aqueles que transformam o culto num show;
4. Aqueles que transformam o culto numa sessão de descarrego emocional.
(Lembre-se que nenhuma dessas formas de culto são necessariamente incorretas em si mesma. Mas, quando se tornam o modelo central de se cultuar, a coisa vira idolatria.)
No círculo reformado, o intelectualismo é o ídolo. Tornaram os cultos numa sala de aula.
No círculo evangelicalismo brasileiro (católicos,pentecostais e evangélicos) acho que a emoção de uma forma geral é o ídolo. Ninguém sente o mover do Espírito a menos que um irmão chore ou outro caia duro no chão.
Há outros ídolos até mesmo porque o culto sempre é oferecido por seres humanos, criaturas inerentemente idólatras.
Calvino costumava dizer que “o coração humano é uma indústria de ídolos”.
Uma pergunta que devemos fazer é: O que hoje aflige nossa liberdade de consciência?É difícil identificarmos este outro fator já que temos cultos e igrejas para todos os gostos.
Existe até igreja pra metaleiro e surfista. Na nossa tradição reformada, acho que a insistência por parte de uns em cantar única e exclusivamente os Salmos tem se tornado um ataque à consciência alheia, sem falar que as provas bíblicas para tal medida são fraquíssimas.
É também muito comum em algumas igrejas dirigentes de louvor que forçam as pessoas a levantarem as mãos, pularem e ficarem de pé. Isso também não deixa de ser uma forma de ataque à liberdade de consciência. A consciência do crente não pode ser cativa senão às Escrituras. Foi isso o que Lutero disse quando questionado na dieta de Worms: “Minha consciência é cativa a Palavra de Deus. Eu não posso e não me retratarei em nada, porque ir de encontro à consciência não é certo nem seguro”.
O nosso desafio de nos mantermos fiéis no Culto à Trindade, não é tarefa fácil. Os nossos antepassados reformadores fizerem um bom trabalho nos seus dias; resta-nós fazermos o mesmo. O Princípio Regulador do Culto tem caracterizado a tradição reformada há séculos. Apesar de anos passados, ele é relevante hoje do mesmo jeito que foi quando foi estabelecido? Devemos aplicar os seus princípios no séc. 21 onde a Igreja de Cristo procura novos meios para que possa adorar a Deus em Espírito e em Verdade.?Os ídolos são os mesmos?O que aflige a nossa consciência hoje?
Adorar com irmãos e irmãs pelo mundo como seria. Quão diferente a liturgia seria daquela que estamos acostumados? Seríamos capazes de adorararmos juntamente com eles?
No interior da África por exemplo.À medida que o culto começa, os homens no púlpito começam a tocar bongôs e o recinto inteiro dança onde estava. Brados prazerosos de louvor irrompem conforme o ritmo progredia.Geralmente uma bela cantoria congregacional se apresenta. As vozes ressoam em perfeito uníssono e as doces palavras direcionam os olhos para a cruz. Depois de cantar, alguém conduz em oração se ouve a Palavra de Deus pregada.
O princípio regulador é a convicção que tudo o que fazemos na adoração corporativa deve estar baseado na Escritura, quer por comando direto ou implicação.Há algumas áreas de adoração corporativa na qual a Escritura não nos deu nenhuma instrução.Deveria e deve haver grande diversidade em nossos estilos de adoração, não deveria haver diversidade em nossa mensagem.
Nosso Deus não está somente preocupado que nós o adoremos, ele também está preocupado que saibamos como adorá-lo.
É claro que deveríamos oferecer nossas vidas por inteiro como adoração ao Senhor. Mas quando nos reunimos, conforme fomos ordenados a fazer, deveríamos ancorar a nós mesmos nos elementos que Deus nos deu em sua Palavra. Isso não é um fardo que nos restringe, mas um alívio que nos liberta. Somos livres para adorar de acordo com os meios de Deus em vez do bel-prazer humano.
O princípio regulador não permite muita diversidade entre as igrejas. Se aderirmos a ele nossas igrejas parecerão exatamente iguais.Nossas igrejas não deveriam inovar no conteúdo ou componentes de nossos cultos, a forma como lidamos com essas coisas, em algum nível, cabe a nós. A Escritura nos dá a “substância” e os “elementos”, mas dentro do perímetro seguro bíblico, as formas são flexíveis.
Então podemos cantar hinos antigos ou músicas repetitivas contemporâneas. Você pode orar por uma hora ou por cinco minutos. Você pode pregar calmamente e igual a uma palestra ou você pode pregar em alto som, com um clímax melódico no fim. Podemos ter a Ceia a cada semana ou a cada mês. Os membros da igreja podem gritar “Aleluia” durante o sermão ou simplesmente uma forma quieta de “um-hum”. E é claro, há circunstâncias inconsequentes como boletins e acentos. Você pode sentar em cadeiras ou bancos e você pode ler a letra da música em um folheto ou em uma projeção.
Minha surpresa seria grande se eu visitasse uma igreja na China e a reunião de adoração fosse exatamente igual à da I.P.B brasileira por exemplo .Uma das glórias do evangelho é que ele penetra todas as nações, tribos, línguas e culturas.
Algumas vezes podemos ser tentados a forçar os outros às nossas escolhas de forma. Nenhuma igreja existe fora de um contexto, então não deveríamos assumir que nossa forma é a forma. Esse esnobismo cultural assume que nossas normas culturais agradam a Deus mais do que outras. Deveríamos fazer o que funciona para pessoas em nosso contexto. Sim, idolatrar contextualização nos compromete, mas ser indiferente às necessidades pessoais é um perigo por si só. Nosso Deus criou diversas pessoas e qualquer tentativa de apagar essa diversidade se opõe ao seu sábio projeto.
A graça salvífica de Deus não faz acepção. É uma sombra daquela reunião de adoração eterna que desejamos. E é a prova que Deus está levando a sério sua promessa de reunir um povo para si mesmo de cada tribo, nação e língua.
Não é justo incluir apenas os irmãos pentecostais nesse grupo de “desviados dos princípios Escriturísticos” (não desligados do Senhor), no que diz respeito ao culto e a muitas outras áreas da vida da igreja. Evidentemente que precisamos reconhecer: algumas igrejas e muitos líderes (pastores, presbíteros e diáconos, de igrejas históricas) têm aumentado essa fileira; cedendo, assim, à tentação de um culto voltado a agradar o pecador, objetivando abarrotar suas igrejas.
Contra esses desvios, personificados na nova modalidade de igrejas “evangélicas”, também convencionalmente chamadas de “neopentecostais”, há uma luta incessante contra essa influência); sem perspectivas, inclusive, de vislumbrarmos o final dessa batalha,já que a influência dos chamados “neo puritanos”,também estão incluídos nessa problemática.
Evidentemente que ninguém, com o mínimo de sabedoria, deve enclausurar-se em suas teorias (ou interpretações) a tal ponto que não fique espaço algum para mudanças.
O puritanismo tem provocado no meio evangélico uma repulsa,com suas abordagens em relação à adoração,quando nem entre eles havia consenso.
A idéia que é transmitida é a seguinte: “Os Puritanos” só cantavam salmos, “Os Puritanos” não permitiam outros cânticos, “Os Puritanos” eram contra instrumentos etc. Isso dá a impressão que esse era um conceito fechado e absolutamente aceito por todos eles.
Mas isso não é verdade. Se usarmos de um pouco de sinceridade teremos que admitir que havia muita divergência, entre eles, quanto aos aspectos externos da adoração (divergência de interpretação da teologia do culto).
John Owen (considerado como um dos mais importantes Puritanos), em relação à oração? Sabia que ele considerava falsa toda e qualquer oração espontânea? Não sabia? Claro, isso é propositadamente omitido por aqueles que defendem a salmodia exclusiva, mas que, por outro lado, concordam, defendem e fazem esse tipo de oração em suas igrejas.
"A oração de improviso é necessariamente desigual em sua qualidade? Quanto a essas indagações, os evangélicos exibem diferenças em nossos dias, tal como os Puritanos diferiam uns dos outros em sua própria época. Baxter, por exemplo, tal como Calvino e Jonh Knox, aprovava uma liturgia que desse lugar às orações espontâneas, mas Owen sustentava que “todas as liturgias, como tais (às de Baxter, Calvino e Knox), são falsas adorações usadas para frustrar a promessa de Cristo quanto aos dons e quanto ao Espírito de Deus”. Quem estaria certo? Novamente, tocamos aqui em uma questão que não é simples, nem pode ser considerada morta
Adotar um ensinamento e não adotar o outro é uma completa falta de senso e uma contradição inacreditável, uma vez que a base do argumento serve tanto para um como para o outro.os Puritanos discordavam nesse aspecto da adoração,logo,que lado criou o Princípio Regulador se nem entre eles havia consenso?
É claro que quanto à João 4:24 há consenso,pois são coisas do coração,mas no aspecto externo atingia quase todos os itens relacionados aos aspectos externos da adoração,havia grande grau de discórdia. As controvérsias deles sobre os aspectos formais e externos da adoração eram reais e contínuas.Como hoje a autoridade e a suficiência das Escrituras,serviam de base comum para ambos os lados do conflito, embora não estivessem de acordo sobre como aplicar esse princípio. Em outras palavras, o desacordo deles estava relacionado à interpretação e ao conteúdo das Escrituras e não ao princípio formal da natureza e da extensão de sua autoridade.
Ensinem tudo, sem nada omitir. Não venham ensinar que “Os Puritanos” diziam dessa ou daquela maneira, como se houvesse uma “estranha” harmonia entre eles.Esse desacordo, entretanto, não diminuí em absolutamente nada a importância que esses servos de Deus tiveram e ainda têm para a igreja do Senhor, porque são fruto de um desejo sincero de encontrar a melhor interpretação para essa difícil questão. Entretanto, quão verdadeiro é também dizer que esse “desacordo”, explicitamente, desautoriza o que está sendo ensinado, quanto à adoração, nesses últimos dias, em nome dos Puritanos. Querem fazê-lo? Que façam, mas não em nome dos Puritanos, pelo menos citem aqueles que pensam analogamente aos senhores, contudo, não esqueçam de observar que nem todos pensavam assim.
Estão querendo transformar o Princípio Regulador do Culto em uma Regra Reguladora do Culto . Isso é muito interessante porque o Principio foi idealizado exatamente para combater a Regra.Entre os anglicanos (muitos puritanos eram anglicanos), havia o estabelecimento de “regras rígidas” para direcionar o culto. Não havia lugar para a espontaneidade.O “Livro Anglicano de Orações Comuns” normatizava, de forma radical, como a liturgia deveria se desenrolar, passo a passo.“Rígidas regras”, que visavam “engessar” o culto, veja essa afirmação:
Uma preocupação principal do culto Puritano era a tentativa de preservá-lo de uma rotina que perdera seu poder através da mera repetição. Isto achava-se no coração da hostilidade Puritana ao Livro Anglicano de Orações Comuns [...]. Os Puritanos ansiavam pela liberdade e irritavam-se debaixo do confinamento.
Segundo Packer:
“Havia e continua havendo três diferentes modos de dirigir a adoração pública:
contar com uma liturgia fixa, como Livro de Oração; ter um manual de orientações gerais (que, como tal, não prevê maiores detalhes), como o Westminster Diretory ;
deixar nas mãos do ministro
deixar nas mãos da congregação regulamentar à vontade a sua própria adoração (essa opção está profundamente ligada com o chamado “princípio normativo do culto”, que defende que tudo que não é expressamente proibido no culto é, então, permitido).
Essas alternativas estão historicamente ligadas aos anglicanos, aos presbiterianos e aos independentes (hoje representado pelos grupos pentecostais, renovados e liberais, em todas as suas variantes) e quacres, respectivamente”
Muitas igrejas locais, têm optado por esse último.Nem mesmo os mais profundos teólogos conseguiram desenvolver “uma liturgia cristã ideal”, em suas nuances. E não conseguiram simplesmente porque ela não está registrada, explicitamente, nas Sagradas Escrituras. Dela podemos abstrair, tão somente, “princípios gerais”.Os reformadores alemães, suíços e ingleses adotavam os mesmos princípios básicos quando à adoração: Concordavam, igualmente, que cada igreja ou federação de igrejas tem a responsabilidade de estabelecer os detalhes de sua própria adoração, de acordo com o princípio apostólico “edificação” (I Cor 14:26) Finalmente concordavam que as igrejas tem a liberdade de praticar sua adoração da maneira que melhor se adapta à edificação de seus membros ,de tal modo que eles estavam certos de que as várias igrejas, em várias situações pastorais, diferenciariam quando aos detalhes” A aplicação, equivocada, do Princípio Regulador do Culto como uma “Regra Rígida ” acaba gerando situações embaraçosas e que acabam por arrebanhar muitos irmãos na luta contra a implantação do verdadeiro Princípio Regulador"A tentativa de pôr o ideal Puritano sobre a vida e a adoração da igreja, levou a alguns argumentos curiosos, como a “prova” de que dois cultos eram obrigatórios aos domingos, com base em Números 28:9-10, que prescreve dois holocaustos a cada sábado ou a “prova” de que o ministro deve permanecer em um só lugar durante o culto, com base na declaração de Atos 1:15”
A DIFERENÇA DE UM PRINCÍPIO PARA UMA REGRA
Tanto o termo “Princípio” como o termo “Regra ou Norma” foram emprestados do vocabulário jurídico. Por mais que se queira dizer que em teologia eles assumem uma nova conotação não há como separá-los, indiscriminadamente, de suas raízes, sob pena de deixarem de ter o significado que se propõem, tanto em direito, como em teologia ou ainda em uso coloquial. Vejamos um pouco o que significa um e outro termo, a partir de sua origem, de sua raiz jurídica:
Os princípios possuem alto grau de generalidade relativa, enquanto que as regras são de baixo grau de generalidade
Os princípios são qualitativamente distintos das regras:
1.°) Uma regra é ou não é cumprida, um princípio possui vários graus de concretização, variando em razão de condicionalismos fáticos e jurídicos;
2.°) Os princípios podem coexistir, apesar de serem antinômicos, as regras em conflito excluem-se. Aqueles permitem "balanceamento de valores e interesses", as regras exigem o tudo ou nada;
3.°) Os princípios podem envolver problemas de validade e de peso, as regras só enfrentam questão de validade".
UMA METÁFORA PARA ENTENDERMOS A DIFERENÇA DE PRINCÍPIO E REGRA
“A aula começa às 7:30 da manhã. O aluno que chegar à sala depois desse horário não terá direito à presença”. Eis um exemplo de regra. Nesse exemplo, não há meio termo: o aluno deve chegar antes do horário marcado. Se chegar um minuto depois, estará descumprindo a regra e, portanto, deverá sofrer a sanção nela prevista. É na base do tudo ou nada. Agora veja um exemplo de princípio: “A aula começará bem cedo. O aluno deve chegar o mais cedo possível”. Observe que a estrutura da frase mudou substancialmente. Não é possível estabelecer com precisão qual é o horário exato em que a aula começará. Vai depender de diversos fatores. Num dia de chuva, o mais cedo possível é um pouco mais tarde do que num dia de sol. Se o carro “der o prego”, certamente haverá um atraso. Se houver engarrafamento, idem.
“O princípio Regulador do culto é um princípio que admite dentro de si várias normas, várias regras; bem como não admite, em hipótese alguma, outras tantas. Ele não é uma norma analítica, mas um princípio Geral”
DIFICULDADES DO TERMO "REGULADOR DE CULTO"
“Princípio regulador do culto (ou princípio regulador da adoração) é a designação dada à forma como os calvinistas interpretam a relação entre o culto cristão e o segundo mandamento. De acordo com esta perspectiva, Deus só deve ser adorado da forma que ele mesmo requer nas Escrituras Sagradas”
O Princípio Regulador do Culto afirma apenas isto: O verdadeiro culto é ordenado somente por Deus; o falso culto é algo que Ele não ordenou. Este era o conceito puritano a respeito do culto”.
Que o culto deve ser de acordo como Deus requer em sua Palavra; que o verdadeiro culto é aquele ordenado por Deus, todos nós concordamos. Mas, eis aqui uma grande dificuldade.Cinco épocas distintas em que houve variação no quesito adoração:
Será que o Antigo Testamento oferece direção para uma adoração no culto contemporâneo? Isso nos leva imediatamente a um problema histórico que oferece um estudo muito desafiador: Que parte do Antigo Testamento devo estudar?
Há pelo menos quatro épocas representadas no culto no Antigo Testamento:
Primeira: De Adão ao Êxodo. Era um culto centralizado na família, pode ser chamado de adoração doméstica Segunda: Desde Moisés, em Êxodo 19, até I Samuel. Foi o período do Tabernáculo. O Tabernáculo era a habitação simbólica de Deus, era um palácio portátil, mas era um palácio
Terceira: De Davi até o Exílio. Essa foi a época do templo e a maior mudança foi a centralidade do culto. Era a adoração de um povo como um todo
Quarta: A era do exílio. Nessa época não havia templo, não havia sacrifício, não havia sacerdócio. Contudo, Deus enviou profetas, como Ezequiel e Daniel. Supõe-se, portanto, que os grupos fiéis se reuniram no exílio e começaram o que depois ficou conhecido como “sinagoga”
Quinta: A era pós-exílica, com Neemias e Esdras. A partir de então, o templo foi restaurado, os sacerdotes voltaram a atividade, e os sacrifícios passaram a ser trazidos
Então, à medida que analisamos estas cinco eras, encontramos mudanças, mas há sempre um lugar de adoração; há mudanças na liderança, mas há sempre o papel do líder; há ainda o papel da música, da Toráh e da hora de oração".
Percebem a dificuldade? Qual o período, com sua particularidade, iremos seguir na nossa adoração? Precisamos ter muito cuidado com esse argumento. Só podemos dizer que nossa adoração segue as recomendações bíblicas por meio de “princípios gerais” e nunca através de “regras reguladores”.
Desafiamos, inclusive, que um membro do grupo poste um único texto bíblico que demonstre, em riqueza de detalhes, como deve ser uma liturgia de um culto cristão. Todos irão citar I Cor 14:26,apesar de incompleto, esse é o texto mais claro sobre o assunto.
“Calvino,o maior de todos os teólogos, o reformador sustentava um princípio, utilizando diversas passagens bíblicas, incluindo 1 Samuel 15.22 – “Obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” – e Mateus 15.9: “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.
A UTILIZAÇÃO ERRADA DO PRINCÍPIO REGULADOR DE CULTO
Os problemas relativos a esse tipo de utilização equivocada, que acaba transformando, como já dissemos, o que era pra ser um “princípio norteador” ( em uma “rígida regra”, perpassa por algumas abordagens
1- Salmodia Exclusiva: é errado (pecado?) cantar outro cântico no culto público que não os “salmos inspirados” (porque existem salmos não inspirados também). Nem mesmo hinos do hinário devem ser cantados, segundo os defensores desse pensamento, mas apenas os Salmos (metrificados?)
2- Proibição de Instrumentos musicais, corais e solos nos cultos não existe base bíblica para permitir-se a utilização de tudo isso no culto.
Por questão de lógica não vou aqui definir o que seria um "Salmo"(Tehilim( do hebraico תהילים, Louvores),Tillim (Hinos).Quando a Confissão de Fé de Westminster, no capítulo XXI, que trata sobre “O Culto religioso e do Domingo”, afirma “o cantar salmos com graças no coração”, está, de fato mandando cantar “exclusivamente” os Salmos da bíblia? Claro que não.( “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Colossenses 3:16).)
Recentemente as igrejas que utilizam em seus cultos “cantores (solos)”, corais e instrumentos musicais têm sido acusadas de trazer “fogo estranho” ao culto, de cometerem “sacrilégio”, de pecarem contra o Senhor. O “Princípio” Regulador do culto tem sido usado, de forma equivocada, em nossa opinião, para fundamentar tal posição. Um dos textos preferidos daqueles que querem proibir tais práticas está registrado na Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXI: “Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás”.
A grande questão é: quem inventou essa história de “cantores” no culto? Quem inventou essa história de corais no culto? Quem inventou essa história de instrumentos musicais no culto? As imaginações e invenções dos homens? As sugestões de satanás? Respondemos: nem uma coisa nem outra. O próprio Deus inventou. O próprio Deus ordenou, o próprio Deus instituiu.
"Davi deu prescrições, em nome de Deus, a respeito dos corais e grupos instrumentais, mas os sacrifícios, o serviço sacerdotal, e as festas de sábado continuaram".
II Crônicas 20.21,II Crônicas 5.12, II Crônicas 35.25,Esdras 2.41,Esdras 2.65,Esdras 7.7, 11.22,Neemias 12.45,Neemias 12.46 ,I Coríntios 14.26
I Reis 10.12,II Samuel 6.5,I Crônicas 15.16, I Crônicas 16.42,I Crônicas 23.5, II Crônicas 5.13, Salmos 61.1
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