terça-feira, 5 de maio de 2020

Os povos habitantes de Canaã

                                   OS POVOS HABITANTES DE CANAÃ

                                                          INTRODUÇÃO

1. OS PRIMEIROS HABITANTES DE CANAÃ

O nome Cananeus vem de Canaã. Esse povo constituiu o elemento étnico de ligação entre a narrativa bíblica e a histórica.
Inicialmente com o discutido “Dilúvio”, e a seguir com a sobrevivência de Noé e sua família, a história bíblica chega a Sem, Cam e Jafé, filhos daquele cuja árvore genealógica povoou a terra, pelo menos naquela parte afetada. 
Os filhos de Cam foram Cush, Mitsraim, Put e Canaã. Até aqui o enfoque bíblico.

Como transição para a História, diríamos que os herdeiros de Canaã, que se espalharam desde a Ásia Menor, para o sul e para o leste, formaram as sete famílias básicas cananaicas: Amorreus , Cananeus , Ferezeus, Girgazeus, Heveus, Heteus e Jebuzeus. 

Todos os outros grupamentos humanos, como cineus, arqueus, guezureus, etc., são tribos ou derivações das nações básicas citadas.

Em respeito ao profundo sentimento patriarcal dos cananeus, vamos chamar a região de “Terra de Canaã”, transformada para os “hebreus” em “Terra Prometida”, segundo a inspiração monoteísta de Abraão.

A incursão feita por esse patriarca e seus familiares para a Terra Prometida partiu de Harran, pequena cidade da Turquia (atualmente, e naquele tempo, Aram, Síria, onde se falava o aramaico). A viagem de Ur, na Caldéia, para o norte, fora o primeiro lance, em busca de melhores terras.

Nesse período anterior da vida na Terra de Canaã, os únicos habitantes da região eram os cananeus, como nação. A comitiva de Abraão não era uma nação.

Vamos abordar a primeira invasão das Terra de Canaã, cerca de 1250-1200 a.C., pelas tribos de Israel, numa confederação sob a inspiração monoteísta de Iavé.

Temos, assim, que aceitar “historicamente” o povo conquistado, o Cananeu, organizado em nações, algumas citadas repetidamente pelos historiadores, como os Amorreus, outras com itinerários ainda discutíveis, como os Heteus (ou Hititas), mas já dissecadas arqueologicamente.


Heteu  significa ‘descendente de Hete’; e Hete significa ‘medo, terror’. Nós podemos dizer, portanto, que Heteu significa ‘o que não tem medo de mostrar quem é’. 
Amorreu é uma palavra derivada de uma raiz primitiva que significa proeminência; conseqüentemente, montanhês, habitante da montanha, alpinista, montanhista; simbolicamente, visionário; 
Fereseu  significa ‘habitante do país aberto’, como é o reino de Deus para nós. 
Heveu  significa ‘aldeão’. Aldeia é símbolo do que é pequeno, costumeiro, limitado, tradicional, que julga; que não se entrega e não se rende; que se opõe à mudança. 
Jebuseu  significa habitante de Jebus,o antigo nome de Jerusalém (‘a cidade da paz’); e Jebus significa ‘lugar que é pisado ou trilhado, eira, lugar de debulha’. Como Ornã ou Araúna foi o último Jebuseu a permanecer no lugar onde seria construído o templo do Senhor, Jebuseu pode significar: o que resiste, o que permanece até o fim. 
Girgaseu  significa ‘o que ocupa terreno argiloso’.
Deus estava dizendo a Abrão: “Ali naquela terra existem bênçãos e características que eu quero lhe dar, assim como à sua descendência; os que ali estão, roubaram o que eu anteriormente separei exclusivamente para o meu povo”. De certa forma, Abrão tinha que deixar tudo aquilo a que ele estava acostumado e que o prendia a falsas seguranças e a falsas bênçãos para conquistar o que era realmente precioso.

Barak que significa: dar autorização para prosperar, tornar igual a, dar capacidade de ser parecido, poder para ter sucesso. Deus estava dando a Abrão, em outras palavras, a capacidade de ser parecido com Ele; de viver Sua vida plena e abundante aqui na terra.
Quando Deus deu a Lei a Moisés e Josué fez o povo entrar na Terra Prometida, as orientações foram mantidas para que a terra realmente ficasse em posse do povo escolhido. Para nós, hoje, de acordo com o que vimos acima, significa remover da nossa vida, demônios e obras da carne que estão impedindo o Espírito de Deus de agir com poder. Também significa tomar de volta as bênçãos que nos pertencem e foram roubadas pelo inimigo. 
Cananeu significa: comerciante, mascate. E como um comerciante zela pelas suas mercadorias para que não sejam roubadas e para que ele não tenha prejuízo com elas, nós podemos estender seu significado para ‘zeloso’; assim, nós é que temos que zelar pelas promessas de Deus e pelos dons espirituais que Ele derrama sobre as nossas vidas.
Heteu significa ‘descendente de Hete’; e Hete significa ‘medo, terror’. Nós podemos dizer, portanto, que Heteu significa ‘o que não tem medo de mostrar quem é’. A nós é que foi dado um espírito de poder e ousadia, por isso devemos usar essa unção para tomarmos posse daquilo que queremos, o nosso lugar de direito na terra. Não precisamos ter medo de mostrar quem somos nem de mostrar o poder e a autoridade de Deus no mundo espiritual através da nossa vida. Mesmo que o inimigo use de ameaça contra nós e tente nos amedrontar, nós temos um Pai no céu que nos defende de toda opressão e violência:
• 2 Tm 1: 7: “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e moderação”.
• Rm 8: 14-17: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, com ele seremos glorificados”.
Amorreu é uma palavra derivada de uma raiz primitiva que significa proeminência; conseqüentemente, montanhês, alpinista, montanhista, habitante da montanha; simbolicamente, visionário. Nós é que fomos preparados para galgar as alturas espirituais e ver o panorama da nossa vida do alto, sob a ótica de Deus. Pensar somente nas coisas materiais nos mantém presos à mediocridade e à sabedoria humana sem valor. Além disso, não nos permite ter uma meta maior na vida, senão nascer, crescer, estudar, trabalhar para ganhar dinheiro e acumular riquezas, casar, ver a descendência e morrer. A obra de Deus é um pouco maior, pois nos faz descobrir a nossa identidade espiritual e saber que o objetivo divino para nós é ganharmos vidas para o Seu reino, ao mesmo tempo em que Ele opera a transformação da nossa alma, fazendo-nos ser mais parecidos com Ele por desenvolver o amor verdadeiro em nosso coração.
Fereseu significa ‘habitante do país aberto’, como é o reino de Deus para nós. Nós recebemos o reino de Deus como herança, um lugar amplo, onde a opressão do diabo e as limitações humanas não têm mais poder sobre nós. E a bíblia diz que o reino de Deus é alegria, paz e justiça no Espírito Santo, e que ele consiste não em palavras, mas em poder. Dessa forma, chegou a hora de derrubar as barreiras limitantes na nossa vida por causa de ações erradas daqueles que, na verdade, nunca conheceram o único e verdadeiro Deus. Maior é o que está em nós do que o que está no mundo.
• “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino” (Lc 12: 32).
• “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17).
• “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6: 14).
• “Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder” (1 Co 4: 20).
• “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4: 4).
• “porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor a vós” (1 Ts 1: 5).
Heveu significa ‘aldeão’. Aldeia é símbolo do que é pequeno, costumeiro, limitado, tradicional, que julga; que não se entrega e não se rende; que se opõe à mudança. O apóstolo Paulo escreveu para Timóteo: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas” (1 Tm 6: 12).
Também diz: “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial” (2 Tm 4: 17-18).
Dessa forma, um verdadeiro filho de Deus não se entrega nem se rende às coisas negativas e pecaminosas, mas persevera crendo na vitória e na proteção divina sobre si. Um verdadeiro filho de Deus rompe os limites e destrói tudo o que se opõe ao trabalhar do Espírito Santo e às novidades de Deus para sua vida.
Jebuseu significa habitante de Jebus, o antigo nome de Jerusalém (a cidade da paz); e Jebus significa ‘lugar que é pisado ou trilhado, eira, lugar de debulha’. Como Ornã ou Araúna foi o último Jebuseu a permanecer no lugar onde seria construído o templo do Senhor, Jebuseu pode significar: o que resiste, o que permanece até o fim. Jebuseus simbolizam os inimigos que Satanás coloca no nosso caminho e que lutam contra o propósito de Deus para nós, que tentam impedir a reconstrução da nossa alma, o lugar que já foi estabelecido como o templo do Senhor. Jebus (‘lugar que é pisado ou trilhado’) simboliza nossa alma outrora ferida pelo inimigo, o palco das nossas lutas espirituais, mas que agora é a cidade da paz (Jerusalém), pois sabemos exercer a autoridade de Deus, colocando-o para fora dela. O interessante é que Araúna (ou Ornã) foi o último Jebuseu no lugar onde havia o monte Moriá (‘escolhido por Deus, visto por Deus’); ali Abraão entregara Isaque ao sacrifício. E ali era o lugar escolhido pelo Senhor para edificar o templo: “Começou Salomão a edificar a Casa do Senhor, em Jerusalém, no monte Moriá, onde o Senhor aparecera a Davi, seu pai, lugar que Davi tinha designado na eira de Ornã, o jebuseu” (2 Cr 3: 1). Davi comprou aquele lugar por um alto preço: seiscentos siclos de ouro (1 Cr 21: 25); cinqüenta siclos de prata por cada tribo de Israel (2 Sm 24: 24). Nós temos também que aprender a resistir contra tudo o que deixa a nossa alma presa ao pecado e à idolatria, e tudo que afronta à nossa caminhada. Da mesma forma que é a palavra de Deus que permanece para sempre, somos nós que permaneceremos firmes nela até o fim, perseverando na promessa que nos foi dada e, pela fé, trazendo-a a existência. Por isso, o único que pode nos ensinar a lutar da maneira correta e nos cobrir com sua proteção é o Espírito Santo. Ele nos deixou Sua armadura espiritual. Cada parte dela é o próprio Jesus, através de cada atitude de amor que tomou a nosso favor:
• Ef 6: 10-17: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra a ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”.
• Tg 4: 6b-7: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.
Girgaseu significa: o que ocupa terreno argiloso. Argila é um material mole, composto de diversos minerais, a partir do qual se faz o vaso de barro. Por isso, o Senhor dizia, no Antigo Testamento, que Ele é o oleiro e nós, os vasos de barro moldados pelas Suas mãos (Jr 18: 6). Girgaseus são os inimigos que afrontam a nossa alma, impedindo-a de ser moldada com humildade nas mãos de Jesus. Quando entendemos isso, passamos a cooperar para o nosso próprio crescimento espiritual, pois nos humilhamos diante Dele e nos rendemos à Sua vontade. Está escrito:
• 2 Co 4: 7-11: “Temos, porém este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal”.
O Espírito de Deus é quem nos capacita a caminhar de cabeça erguida diante das provas da vida e manifestar o poder de Jesus diante dos homens

 (Uma delas, porém, teve continuidade nos nossos conhecidos “Fenícios”, habitando o litoral do atual Líbano e suas proximidades. Os fenícios, habitando a mesma terra, falando a mesma língua, cultuando as mesmas divindades e, para completarmos, tendo inventado o alfabeto “cananeu” , eram, de fato e de direito, cananeus.)

Assim, por volta de 1200 a.C., seriam dois os povos habitantes, os cananeus e os israelitas, se não houvesse mais dois povos em formação a leste do rio Jordão, os quais, juntamente com os cananeus não assimilados, procuraram impedir a marcha dos israelitas para o norte, vindos do deserto do Sinai: os moabitas e os amonitas.( De acordo com o relato bíblico, Gênesis 19:37-38, tanto Ben-Ami (Amom) quanto Moabe nasceram de uma relação incestuosa entre Ló e suas duas filhas no resultado da destruição de Sodoma e Gomorra e a Bíblia refere-se aos Amonitas e aos Moabitas como os “filhos de Ló”)

Nessa fase, quatro eram os povos que habitavam Canaã: os cananeus, os israelitas, os moabitas e os amonitas. Como invasores, somente os israelitas. Mas não por muito tempo.

Antes mesmo da conquista terminada, há cerca de 1175 a.C., os israelitas já tinham outros companheiros invasores, que se contentaram inicialmente com a faixa litorânea, aventurando-se, depois, pelo interior: os Filisteus

1. a)  OS FILISTEUS

Apesar de não serem muito numerosos, os filisteus chegaram, anos depois, a dominar quase toda a área da atual Judéia. A grande região de Canaã que ocupavam foi batizada pelos gregos de “Philistia”, ou “Philistéia” (ou no hebraico “Pêlestin” ou “Palestina”).
Originários da região do Mar Egeu e de Creta ( Am 9.7; Jr 47.4),chegaram na Palestina e se estabeleceram ali por volta dos séculos XIII e XII a.C., depois de trabalharem como mercenários para governantes hititas, cananeus e egípcios,e serem derrotados pelos últimos. 
Os “Povos do Mar”, como eram conhecidos, já vinham atacando o Egito desde a época de Ramsés II, quando este os derrotou e os obrigou a guerrearem na batalha de Cades contra os heteus (1275 a.C.).
Todavia, Merneptá e Ramsés III são os que descrevem mais detalhadamente suas lutas contra eles, em que os Povos do Mar se aproximam tanto pelo mar (via ilha de Creta), como por terra (via costa da Síria e Canaã).
Após a derrota, um grupo desta confederação, conhecido como peleset,ou filisteus,instala-se na costa de Canaã.
Portanto, a referência do livro de Gênesis quanto à origem dos filisteus relacionada a Mizraim (Egito), deve ser entendida como geográfica/política, não étnica (Gn 10.13-14).

Os israelitas, após períodos que oscilavam entre vitórias e derrotas sobre os filisteus, conseguiram, finalmente, neutralizar aquela expansão com a unificação do Reino de Israel, inicialmente governado por Saul, e logo depois, por Davi, da Tribo de Judá. 
A partir dessa época, cerca de 1020 a 1010 a.C., é contada para os israelitas a data da fundação de Israel, com capital em Jerusalém, pronta para receber a Arca da Aliança, no grande Templo que seria construído em breve.

2. O reino de Israel

O Reino de Israel, sob o mando de David, limitou as pretensões dos filisteus à orla costeira, embora não os tenha expulsado definitivamente, bem como abalou a capacidade dos moabitas e amonitas e outros reinados de cananeus que ainda guerreavam pelo Oriente do rio Jordão. Todavia não durou muito essa superioridade israelita.
Após a Era Dourada, com a morte de Salomão, o Reino dividiu-se em dois: 
. Israel, ao norte, capital em Sebaste (Samaria), integrado pelas Dez Tribos, e, 
. Ao sul, capital em Jerusalém, as tribos de Judá e Benjamin, cujos integrantes se chamaram “judeus”. 

3. Invasões da Assíria e Babilônia

No ano 722 a.C., os assírios invadiram a Samaria e levaram cativos muitos habitantes das dez Tribos, ao mesmo tempo em que deixaram muitos do seu país nessa parte da Palestina. 
Dessa época de mistura étnica e de cultos, surgiram os “samaritanos”, que, como os galileus, sofreram muita influência mística dos fenícios. 
Já a invasão dos babilônios (Caldeus), no ano 586 a.C., não deixou muitos representantes na Judéia, forçando, por outro lado, muitos judeus ao exílio, a começar com a cativeiro da Babilônia, bem assim a emigração para a Galiléia, o Egito, províncias greco-romanas e Iêmen, considerados, em conjunto, a primeira grande diáspora.
Os babilônios não demonstraram muito interesse pela Judéia, restringindo suas ações mais à cidade de Jerusalém, cujo Templo destruíram, cujo tesouro saquearam e cujas muralhas arrasaram. 
Ressarcidos em parte pela magnanimidade de Ciro, rei da Pérsia, os judeus marcaram esse período de retorno da Babilônia com um grande esforço de reconstrução de Jerusalém, e houve uma retomada dos padrões éticos e morais, orientada pelo profeta Neemias.

4. Alexandre Magno  

Com as conquistas militares de Alexandre Magno, o Oriente Médio sofreu uma transformação cultural muito grande, apesar de seu tempo de domínio ter sido muito curto, pouco mais de dez anos. 
O “helenismo” preponderou com muita facilidade devido a dois consideráveis fatores: o gênio político e militar de Alexandre e a magnitude da língua e da cultura grega.
Alexandre Magno viveu pouco. Antes de morrer, aos 33 anos, deixou seu vasto Império dividido entre seus generais de confiança, que eram grupados em “Ptolomeus” e “Selêucidas”, ficando os primeiros, egípcios, com a Palestina e os segundos, Sírios, com as províncias do norte. Prevaleceram os Selêucidas, da Síria, que dominaram o Egito e a Palestina a partir dos quais vieram “Antíocos” e “Seleucos”, de mandatos desastrosos, até dar-se a revolta dos Macabeus, em 167 a.C., quando se estabeleceu a dinastia “Hasmonea”.

5. Os macabeus

Com a dinastia Hasmonea, ou dos Macabeus, que foi uma revolta tipicamente dos judeus contra a profanação do II Templo por Antíoco, rei Selêucida, todas as etnias híbridas de pequenos reinados e até mesmo nações como os filisteus, moabitas e amonitas perderam a sua expressão guerreira. 
De modo que, quando os romanos chegaram à região, em 63 a.C., levando somente administradores e a tropa militar, apenas os israelitas, como nação, habitavam a Palestina. 
A essa altura, os cananeus já assimilados, os galileus na condição de uma província atrasada e quase pagã, os samaritanos como um povo hostil ao lado, os israelitas estavam então unidos por um novo símbolo, “o povo judeu”, das Tribo de Judá, que, na realidade, assumia a personalidade de toda a área. 
Quando os romanos invadiram a Palestina, seu objetivo político era controlar a Judéia, uma preocupação para Roma, deixando as províncias secundárias para o controle da dinastia herodiana.

6. A dinastia herodiana

Iniciada ainda no período dos Macabeus, com Antíoco Epifanes, mais tarde com seu filho Antipatris, essa dinastia foi caracterizada por dirigentes cruéis e devassos, tendo sua projeção máxima em 37 a.C. com Herodes, o Grande (ou o Velho), que conseguiu ser nomeado rei da Palestina, mas numa posição secundária, de submissão, a Roma, pois isso aconteceu após a invasão dos romanos. 
Era idumeu, nascido em Askelon. Sua crueldade no assassinato de familiares era tão notória que a matança dos inocentes, em Belém, a ele atribuída, não deveria causar tanta celeuma entre os historiadores, uma vez que estava perfeitamente de acordo com seu caráter desumano.
Vamos citar apenas dois filhos, em atenção ao nosso objetivo neste artigo: Arquelau, que sucedera a Herodes, o Grande, no ano 4 a.C., e Herodes Antipas. 
. O primeiro só permaneceu no cargo até 6 d.C., quando foi destituído pelos romanos, e veio a morrer um pouco depois. Temido também pela crueldade, tanto que José, com Maria e Jesus, de regresso do Egito, rumaram diretamente para Nazaré, na Galiléia, por medo de residir na região de Jerusalém, onde a família tinha parentes bem situados na vida.
Nazaré era uma pequena cidade, fora da jurisdição de Arquelau (Judéia e Samaria) e um refúgio natural para judeus emigrados, que também evitavam os samaritanos. Os romanos, com a morte de Arquelau, não mais nomearam governantes da dinastia herodiana para o conjunto Judéia-Samaria. Teve, então, início a era dos procuradores romanos.
O Segundo, o outro filho de Herodes, o Grande, Herodes Antipas, nosso velho conhecido do Novo Testamento, teve dos romanos a incumbência da jurisdição da Galiléia, de secundária importância política, e da Peréia, província a leste do rio Jordão, na ocasião já livre de problemas com moabitas e amonitas. 
Para avaliação da dinastia herodiana, que esse Herodes Antipas, por cuja ordem foi degolado João Batista e de atitude dúbia e pusilânime no processo de Jesus, era considerado menos cruel e até mais benevolente ante os demais governantes da família. 

7. A Palestina no tempo de Cristo

No princípio do século I da Era Cristã, a Palestina era habitada pelos seguintes povos: 
a) os judeus, habitantes da Judéia e de pequenos núcleos em toda a área palestina, principalmente na Galiléia; 
b) os samaritanos, uma nova etnia constituída de descendentes das Dez Tribos e dos invasores assírios; 
c) os galileus, também constituídos de elementos descendentes das Dez Tribos mais ao norte, e de povos fronteiriços: sírios, arameus, fenícios e outros grupos menores. 
O termo Galiléia vem do hebraico “galil”, correspondente a “território”, “província”, com intrínseca idéia de região cercada por todos os lados. 
A antiga Galiléia era muito menos extensa que a atual, e a infiltração de elementos de nações limítrofes era inevitável; 
d) os idumeus, habitantes da Iduméia, mais ao sul. Eram uma mistura étnica complexa, sem expressão política, sem ser nação, citada apenas porque deu ao povo palestino uma carga pesadíssima: a dinastia dos Herodes. 
Os demais povos, como cananeus, moabitas ou amonitas, ou foram assimilados ou perderam a expressão. 
Os filisteus foram expulsos. 
Os assírios deixaram uma quota, miscigenando e formando os samaritanos. 
Os egípcios, sírios e gregos deixaram pequenos contingentes, esses últimos os mais numerosos.
Os babilônios não deixaram muitos representantes. 
Como “invasores”, no início do século I, só permaneceram os israelitas e os romanos. 
Não podemos esquecer que a invasão dos israelitas, já então desdobrados em galileus, samaritanos e judeus, teve conotação mística, conceito que não pode ser ignorado na apreciação histórica e política. 
Quanto aos romanos, sua conquista da Palestina nada teve de sobrenatural

                                                       CONCLUSÃO

O povo judeu é uma síntese histórica, sofrida e provada, das Doze Tribos de Israel, o que vale dizer, dos israelitas. Herdeiro predestinado da Tribo de Judá, sua história sempre esteve ligada à Palestina. Há quase quatro mil anos esse povo anseia e luta por uma Terra Prometida, ou procura a ela retornar, quando expulso. 
Nesse último caso, sempre permaneceram na terra conquistada núcleos judaicos, e os exilados sempre mantiveram uma visão messiânica de retorno à pátria de adoção. 
Essa ligação carismática com a Palestina tem dado ao povo judeu, através dos séculos, um forte espírito de luta pela sobrevivência, que vem sendo pago há tempos, e por um alto preço.
Realmente, começou no deserto do Sinai, durante o Êxodus. O anseio por uma pátria fixa superava, às vezes, a obediência aos preceitos transmitidos por Moisés e, aos primeiros sinais de infortúnio, a rebeldia civil era violenta e também violentamente reprimida. 
Mais tarde, no período dos Reis, incluído Salomão, descalabros dos governantes, como idolatrias, devassidão, assassinatos, taxação escorchante de impostos, levaram à divisão do Reino de Israel, tendo os judeus, povo de que se originou o nome “Judéia”, tomado uma atitude heróica de autonomia com relação ao conjunto das Tribos.
Finalmente, na dinastia Hasmonea, dos Macabeus, fruto de uma extraordinária revolta judaica contra a profanação do Templo, a proliferação de elementos corruptos era tão grande que, segundo A. Powell Davies (1956, p. 73)13, “é quase incrível que tantos inconscientes canalhas tivessem ocupado posições de mando em tão curto período”. 
Essa conduta discrepante, que não condizia absolutamente com os ditames da Lei Mosaica e os ensinamentos dos Profetas, foi talvez uma das causas que motivaram, embora sem justificativa, o surgimento de uma atitude “farisaica” (hipócrita) por parte de uma fatia expressiva de dirigentes religiosos fariseus, que, juntamente com os saduceus e os essênios, foram as três seitas surgidas naquele período de autonomia judaica.


 





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