quinta-feira, 30 de abril de 2020

Discipulando homens e não anjos

2. DISCIPULAR  HOMENS E NÃO ANJOS ( DESMASCARANDO A SI MESMO )


Nossas fragilidades são enfatizadas no "Pai Nosso" que nos recomenda pedir perdão "todos os dias"

O nosso amor próprio sempre vivo nos vê como "anjos" e não como homens, assim como diz Pastor Gilberto em seu livro "Não sei discipular anjos".

"Somos sérios candidatos a nos tornarmos demônios."

1 .Sou impotente na arte de apetecer anjos e compreender suas biologias assexuadas, somatizadas com suas naturezas incorruptíveis e suas puras existencialidades sensíveis!!! 

2. Lido com humanos, compreendo suas fragilidades emocionais e biológicas

3. Identifico com suas limitações psicológicas, e sou pecador como a todos os mortais!!!

4. Louvo a Deus por Cristo Jesus que sacrificou-se por mendigos na eternidade, presenteando-os os portais eternos como quintal de casa e o lago do esquecimento como estações passadas!!!

5. O Sangue de Jesus é a única substância trans existente no cardápio mais sofisticado da ciência, capaz de sujar os pecadores e impotentes homens e torná-los mais belos que os anjos, mais brancos que a neve!!!

6. O amor-próprio natural de Adão, anterior à Queda

. Para Tomás de Aquino é indiferente

. Para Jansenius como pervertido em concupiscência. 

. Para Nicole, que descreveu o amor-próprio como um substituto hipocrítico do comportamento virtuoso.

. Para os trágicos gregos, no século V a. C., a prioridade do amor por si mesmo parecia evidente

. Eurípides explica através de Medéia que é natural amar a si mesmo de preferência aos outros e que o amor de si é primordial (Medéia, 86).

. Mas a reflexão filosófica antiga não se contenta com uma tal intuição: o “conhece-te a ti mesmo” délfico (que é em seu ponto de partida uma declaração teológica: “saiba que tu és mortal”) adquirirá sucessivamente um sentido moral.

. Sócrates explica que aquele que se conhece reconhece que nada sabe

. Metafísico (em Platão) e político (em Aristóteles). Aristóteles designa o verdadeiro philautos, o amante de si mesmo (Et. Nic. IX, 8, 1168a29-30) ao passo que o estoicismo reabilita esse amor doméstico que faz com que eu habite meu corpo

. Ovídio, no mito de Narciso: o divino Tirésias, consultado sobre o futuro da criança, havia profetizado uma longa vida si se non noverit, “desde que ele não se conheça”.

. Mas o jovem homem se enamora de sua própria imagem refletida numa fonte tranqüila; ele pensa tratar-se de um outro: não se pode a princípio falar de conhecimento de si mesmo.

. Narciso despende tempo para descobrir que é a ele mesmo que ama. Inicialmente, ele mesmo, no caso de Narciso, é um outro. Mas sua morte pavorosa é causada pela tomada de consciência do amor impossível que experimenta por ele mesmo: “Eu me ardo por mim mesmo e excito o fogo que me devora.

. ”Plotino vê nesse mito um convite a não se deter na imagem, mas considerar a realidade do alto a partir da qual as coisas daqui de baixo são apenas ícones: quem se inclina demasiadamente em direção às realidades visíveis cairá, como Narciso, nas torrentes da morte

. Santo Agostinho responde em O Livro dos Espíritos: Um sábio da Antiguidade vos disse: ”Conhece-te a ti mesmo”.Tal aforismo, já inscrito no oráculo de Delfos, nos leva inicialmente a entender que a libertação e alegria do Espírito não consistem em um estado, mas em um processo de busca da verdade em si mesmo, o qual define-se, consoante a pedagogia socrática, em dois momentos: a ironia e a maiêutica.

. Através da ironia, ou arte da interrogação, Sócrates levava o discípulo a afastar toda idéia falsa ou ilusão que tivesse do mundo e sobre si mesmo, induzindo-o a chegar à verdade por si mesmo. 

. Tal procedimento visa inicialmente pôr a descoberto a vaidade, desmascarar a impostura e seguir a verdade. Ao atacar os cânones oficiais, a ironia socrática parece ter uma feição negativa e revolucionária, no entanto, esse primeiro momento do processo de autoconhecimento é autêntico, uma vez que visa à purificação da alma por via da expulsão de idéias obscuras e ilusórias que esta possui sobre si e que na verdade distanciam a alma de si mesma.

A melhor maneira de promover o autoaperfeiçoamento, afirma Sócrates, é por meio do auto exame, e é apenas através deste reencontro consigo mesmo que se torna possível o renascer da própria consciência, a parturição, ou seja, o trazer à luz as próprias idéias

Apenas aquilo que é decidido de dentro para fora é autêntico e pode nos libertar. 

Efetivamente, a posse da verdade consiste em uma operação não apenas vital, mas pessoal, em que a forma interrogativa ou dialética permite ao discípulo relembrar a verdade adormecida em sua alma.

É assim que Agostinho de Hipona nos descreve o itinerário dessa busca de autoconhecimento diante de tantos conflitos existenciais que afligiam sua alma quando, dilacerado pelas vaidades e paixões, desperta para as verdades cristãs.nessa ocasião, escreve Confissões, obra na qual dedica-se a perscrutar o abismo da consciência humana, mas o faz também em sua própria consciência. Agostinho inicia assim essa trajetória inicialmente conflitante buscando estabelecer a distinção entre o bem e o mal, para então inverter seu olhar da realidade mundana à interioridade, em uma conversão de valores.

Agostinho afirma o bem como a única realidade positiva, na medida em que o mal consiste em uma privação, decorrente do mau uso da liberdade: procurei o que é o mal, e verifiquei que não é substância, mas perversidade de uma vontade que se afasta da substância suprema — de Vós, meu Deus — na direção das coisas inferiores

Agostinho que, sem dúvida recomendou esse método, foi quem na verdade explorou essa busca de interioridade e a exemplificou em si mesmo, pois sempre buscou mergulhar dentro de si e conscientizar-se de seus erros e defeitos, conforme expõe de forma autêntica em Confissões:
"Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupções de minha alma, não porque as ame, ao contrário, para te amar, ó meu Deus. É por amor do teu amor que retorno ao passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros."

Efetivamente, após tantos conflitos interiores, o bispo de Hipona busca esse auto-exame de seu passado, busca essa interrogação ou ironia socrática, questionando a si mesmo, não por alguma motivação exterior a si, mas antes como uma forma de amar e exaltar a Deus

Como amar a Deus plenamente sem uma libertação da própria consciência que se julga? 

. Eis aqui a moral autônoma que nos ensina a pedagogia espiritual, na medida em que o Espírito se auto legisla, visando uma libertação da sua própria consciência. 

. Daí o papel decisivo da memória no processo de autoconhecimento, pois é na memória que eu me encontro comigo mesmo

Escreve Agostinho, que me lembro de mim mesmo, as coisas que fiz, a época e do lugar em que as fiz, do que sentia ao fazê-las.

O despertar para o amor impele Agostinho à sinceridade consigo próprio e para com Deus, pois à medida que o ser eleva-se moralmente, não mais se satisfaz em enganar a si mesmo. 

Por isso, quando resignados e elevados, a visão do passado constrangedor pede por manifestar-se como uma forma de libertar-se a si mesmo. 

A consciência autônoma só se liberta quando depara consigo mesma e se aceita. 

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"  afirma o amoroso mestre.

O amor a Deus é impossível sem a autenticidade da alma para consigo mesma. 

. Não basta à consciência a recompensa exterior farisaica. 

. Recordar primeiramente consiste em apresentar-se à deusa do passado, segundo alegoria platônica, para então viver um presente consciente em função do futuro libertador

. Ao infringir o senso moral, à lei imanente ao Espírito: 

. é como se nos distanciássemos da verdade
. é como se dilacerássemos, pela vaidade, torpezas e conflitos interiores, a unidade do amor que caracteriza a nossa essência. 

E esse rompimento com a unidade desvia o Espírito de sua natureza substancial, dispersando-o na contemplação exaustiva do mundo sensível.
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