A mulher cananeia (Mt 15: 21 - 28)
Dentre inúmeras histórias de mulheres narradas pela Bíblia, hoje quero destacar a história de uma de quem nem ao menos sabemos o nome, mas que é um grande exemplo de fé, humildade e perseverança.A Bíblia mostra-nos que ela enfrentava uma situação muito difícil em sua casa: a filha estava sendo miseravelmente oprimida.
Jesus estava de passagem pelas regiões de Tiro e Sidom e essa mulher toma conhecimento da presença dele pelas proximidades de sua cidade. Ora, Jesus operava muitos milagres e multidões o seguiam na esperança de receberem uma dádiva divina. As notícias acerca dos seus feitos eram veiculadas por toda parte e ela conhecendo que por ali passava alguém capaz de realizar tantos feitos, precisaria tomar uma decisão: Ir ou não ir? Crer ou não? Tentar ou não fazer nada? Da decisão dela dependeria o desfecho da história.
Para ela, como mãe, deveria ser uma situação que beirava o insuportável ver a filha padecendo tanto, sem poder fazer qualquer coisa que fosse para amenizar o sofrimento. Não era uma situação para a qual ela tivesse uma solução, era algo que fugia do seu controle e estava além das suas possibilidades.
Existem problemas que parecem fugir do nosso controle e que estão além das nossas forças humanas para que haja uma solução. É nessas horas que precisamos tomar uma decisão: Desistir como se não houvesse mais esperança ou buscar socorro em Deus? A Palavra de Deus nos garante que:"Para aquele que está entre os vivos há esperança" (Ec 9:4).
A atitude dela naquele momento foi aproveitar a oportunidade que surgia de buscar um milagre para a sua casa. Ela acreditou que Jesus podia ajudá-la e assumiu a responsabilidade pelo bem estar de sua família. Seria fácil delegar a responsabilidade para outra pessoa, mas ela entendeu que ninguém conseguiria ter comprometimento com aquela causa como ela, pois era ela quem vivenciava a dificuldade. Também não se acomodou, não se conformou e partiu em busca de uma mudança.
É muito fácil reclamar das dificuldades que se levantam, colocar a culpa nos outros pelos momentos difíceis que passamos, mas quando entendemos que somos responsáveis por buscar uma mudança naquilo que não nos satisfaz, naquilo que não está bom, estamos dando o primeiro passo para que a mudança realmente acontece. Não basta apenas detectar o problema, é preciso se comprometer e trabalhar para viver o novo.
Ela saiu, sem saber o que enfrentaria, mas tinha objetivos claros e uma meta muito bem estabelecida: Voltar pra casa com o seu milagre.
Quando estamos em busca de viver algo novo na nossa vida, é necessário ter objetivos traçados. Aonde quero chegar? Qual o fim que quero alcançar ao tomar tal decisão? Ao tornar claro o lugar onde quero chegar, fica mais fácil saber o caminho que preciso percorrer. A meta dela era um milagre e para alcançar esse fim o caminho era buscar a Jesus.
Ao se aproximar de Jesus, intercede por sua filha: "Senhor, filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada" (Mt 15:22b). Logo o seu clamor incomodou aos discípulos que pediram a Jesus que a mandasse embora: "Despede-a, que vem gritando atrás de nós" (Mt 15:23b). Mas isso não a fez desistir.
Precisamos entender que antes de se alcançar um objetivo passa-se por obstáculos. Era muito fácil para os discípulos mandá-la embora, pois não eram eles quem vivenciavam o drama que aquela mulher enfrentava. Nem sequer conheciam seus motivos, como poderiam entender o clamor insistente que ela fazia. As pessoas nem sempre vão entender a nossa busca, a nossa luta, o nosso empenho, os nossos sonhos e os nossos objetivos, pois quem sabe onde queremos chegar somos nós e não eles. O outro não sou eu pra entender o que me move. E quando o que nos move é o desejo de se aproximar mais e mais de Deus e de tudo o que Ele tem pra nossa vida, quem pode nos impedir de avançar?
A primeira resposta que ela ouviu de Jesus não foi fácil: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15:24). A reação dela foi surpreendente: ela adorou: "Então, chegou ela e adorou-o dizendo: Senhor, socorre-me" (Mt 15:25).
A segunda resposta que Jesus dá: "Não se dá o pão dos filhos aos cachorrinhos" (Mt 15:26). Mais uma vez ela me surpreende com sua atitude: "Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores" (Mt 15:27).
A cada obstáculo, a cada dificuldade, a cada resposta aparentemente contrária, ela se lembrava do que a impulsionara a ir até ali. E a vontade interior de alcançar libertação para sua filha a fazia perseverar cada vez mais.

O texto deixa transparecer que essa mulher tinha um certo conhecimento acerca da profecia que falava do Messias, quando, ao se encontrar com Jesus, declara ser Ele filho de Davi. E quando Jesus diz que o pão dos filhos não podem ser dados aos cachorrinhos, ela parece compreender que o Messias viria para a nação de Israel. Mas ela também demonstra que, mesmo sendo uma estrangeira que não fazia parte do povo escolhido por Deus, a misericórdia de Deus era suficientemente grande para alcançá-la também. E Jesus vê nela uma fé que lhe chama a atenção: "Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé." (Mt 15:28a). Ela não era seguidora de Jesus, não fazia parte da multidão que o acompanhava e que, por várias vezes presenciara a realização de milagres, mas, mesmo assim, compreendera a misericórdia de Deus de uma forma que nem os mestres da lei haviam compreendido. E ela volta para a sua casa com aquilo que havia se proposto a buscar: "E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã" Mt 15:28c).
Nenhum comentário:
Postar um comentário