segunda-feira, 3 de maio de 2021

Uma geral em João 15

                                         PERÍCOPE EM JOÃO 15


O Evangelho de João é conhecido como O Livro da Glória e o mesmo está dividido em 2 partes:

1. ( 1-12  )A Revelação de Jesus ao mundo

2. ( 13-17 ) A Revelação de Jesus aos seus discípulos 

A Videira e os Ramos encontra-se nesta segunda parte,onde Jesus faz um discurso de despedida.

É uma pausa reflexiva de algo fundamental para a igreja d'Ele no mundo: Permanecei em mim

O Evangelho de João apesar de estar entre os sinóticos,difere muito dos mesmos com características peculiares e é mais complexo.

Nosso foco nessa segunda parte do livro é A Videira ,onde Jesus traz uma revelação aos discípulos.Essa revelação é precedida do Lava pés ( 13:1-20 ),o anuncio do traidor ( 13:21-30 ) e encerra com o discurso da sua partida ( 13:31 a 14:31 )

A mensagem da Videira está em um lugar estratégico,pois Ele acaba de falar sobre a sua volta para o Pai,mas os discípulos precisam saber o que é essencial : o que os faz ser discípulos e como nasceram para o discipulado. Só assim poderão se sustentarão frente ao ódio do mundo ( João 15:18,16:4)

Nosso objetivo é uma subdivisão de João 15:1-17 sobre a Gênese do Discípulo ,que é um ramo que produz fruto para a glorificação do Pai.

Em João 15:8 a parábola ( mashal ) tem um repouso com o objetivo de avivar a percepção do que é real com aquilo que se deseja e cada um fazer um juízo de si mesmo e de sua situação.

Após essa primeira parábola,Jesus inicia uma segunda seção,que trata do Amor de Jesus com o Pai,sendo este o modelo de amor entre os discípulos,e aqui cessa a linguagem metafórica : Agricultor,Videira,Ramos e frutos .

A linguagem de João 15:9-10 é dirigida à realidade e a linguagem é de permanecer no amor e guardar os mandamentos.

No versículo 8, João conclui decifrando as imagens agrícolas,cumprindo seu ciclo,quando o resultado desejado é alcançado :

A Videira com seus ramos produtivos correspondem com Jesus e seus discípulos.O Agricultor que se satisfaz com a colheita dos frutos é o Pai ,que é glorificado com o "permanecer  e as atitudes de seu Filho.

Os ramos não correm o risco de serem cortados,pois permanecendo em Jesus produzem frutos abundantes e como discípulos glorificam ao Pai com suas atitudes.

A metáfora de 15:1-8 muda para conceitos em 15:9. Daí em diante o foco é o mandamento do amor recíproco,caracterizado por ἀγαπ com elementos novos .

A única condição colocada é "permanecer em Ele" (  ἐν ἐμοὶ   )

A outra seção está ligada a esta mas com outro horizonte com passos ultores : permanecer no amor,guardar os mandamentos,amar-se reciprocamente ,reforçando a ideia relacional .

Em 15:9 não é mais permanecer ἐν ἐμοὶ no seu amor ( ἐν τῇ ἀγάπῃ )voltando mais para a parte prática do discipulado e não para a sua gênese.

Mas na frente em 15:12,17 o pronome reflexivo ἀλλήλους indica o vínculo dos discípulos entre si,que desprende do vínculo primário

Não foi João quem criou a figura da metáfora,mas ela tem origem no Velho Testamento

Isaías 5 A vinha é a casa de Israel,que produziu uvas bravas,mostrando sua natureza má

Jeremias 2 Também a vinha é a casa de Israel e as uvas são a idolatria(fiel para infiel)

Ezequiel 15 Fala do "sarmento"(ramo) de videira (habitantes de Jerusalém) e o juízo

Oseias 10 Videira luxuriante(idolatria)

Os profetas enfatizam o plantio e cuidado do Senhor com a vinha e a frustração com o resultado,sendo esta abandonada.

Salmo 80 Israel tirado do Egito e plantado na terra prometida

Como texto do Novo Testamento 

Marcos 12  Os maus vinhateiros,mas já com um tom cristológico

Apesar dos detalhes de João :

1. Verdadeira

2. Limpos pela palavra 

3. Os ramos por si mesmos não podem frutificar

A expressão "videira verdadeira" mostra a revelação cristológica.

Dados os  contextos teológicos da metáfora,vamos às lições em João :

Aqui se abrem 2 metáforas : A auto revelação e a revelação do Pai 

1. Ἐγώ εἰμι ἡ ἄμπελος (Videira) ἀληθινή (Verdadeira )

2. Πατήρ μου ὁ γεωργός ἐστιν ( Agricultor )

A inversão dos verbos mostra a acuidade com que o autor tece a metáfora:

Na primeira a afirmação com o sujeito ( Jesus ) faz de si mesmo,mas o predicado é uma metáfora,até então desconhecida do texto ,somando ἀληθινή ( verdadeira ) que O qualifica e O distingue.

Na segunda ligada à ela pelo conectivo καὶ ( e ) temos um novo sujeito Πατήρ μου (meu Pai ) que possui a relação expressa com o sujeito da primeira afirmação pelo pronome μου (meu ), descrevendo-O também metaforicamente ( ὁ γεωργός ἐστιν = O Agricultor é ).

Apesar do meu foco ser O Pai como o Agricultor,não posso deixar de falar da Videira que é Jesus:

Embora o Salmo 80:15-16 dê uma certa base e pela Septuaginta dê a possibilidade da vinha ser identificada ao "filho do homem",sendo talvez a raiz da interpretação joanina.

Era de se esperar por todos que a videira no Novo Testamento fosse a Igreja,porém João traz uma novidade que instaura descontinuidade,ou seja o fundo veterotestamentário não resolve todas as questões.,a resposta é cristológica,assim a videira não pode ser mais abandonada,nem deserta ou abandonada,arrancada ou queimada.Ela agora é  ἡ ἄμπελος ou divina e contrapõe à todas as figuras já apresentadas da videira.

A vinda de Jesus pôs fim ao culto israelita e toda cultura deste culto.Israel foi suplantado não pela igreja mas por Jesus,sendo assim a videira que é Jesus começa a experimentar uma concentração cristológica como requisito para ampliar a igreja : Ser vinha é permanecer em Cristo.

Ao lado do elemento comunitário entra o indivíduo ou o ramo que se ligará a videira ( um princípio novo ),não algo atomizado mas ligado à videira e os ramos .

ἀληθινή tem uma concepção de verdadeira,mas um significado espiritual em contraste com a figura passada de natural e terrestre,pois contém a ἀληθινή porque Jesus é a verdade.

A ontologia do discípulo é determinada não por uma ação sua mas a de Jesus.A Videira não á a soma dos ramos ( comunidade da fé ),mas Jesus precede e recebe os que o Pai (  γεωργός  ) o Agricultor deu para Ele.

a) Se o ramo quer produzir a íntima comunhão com a videira e com os ramos é básica

b) O Agricultor tem um cuidado com os ramos e esse o nosso foco,depois de toda essa curva.

Essa função é nova nas Escrituras 

1. Ele é o agricultor (  γεωργός  ) o que cuida.

No Velho Testamento Ele aparece como aquele que planta (Isaías 5)

( A própria definição como Pai é uma revelação de Jesus , e o mesmo ἱὸς ( filho ) em nada menor,mas apenas indica Sua função ou missão e autoridade da verdade.

Em Marcos 12 Deus é o dono da vinha que arrenda à agricultores,assim Ele não cultiva pessoalmente a vinha.

Aqui a videira está sob a guarda direta d'Ele ( verso 2 ),sendo Ele o Senhor da videira,tendo autoridade de podar e cortar ,sendo os frutos para Ele,para agradá-lO

Toda  atenção da metáfora,chama a atenção para o Pai,pois Ele é o sujeito da parábola:

Ele planta,Ele cultiva e Ele colhe.Apenas a expectativa é como no Velho Testamento: bons frutos

2. Como agricultor ( γεωργός ) a parábola mostra sua função intrínseca ligada ao dinamismo imanente do processo da videira ou o andamento da videira,ao processo produtivo dos ramos.

O discípulo precisa glorificar o Pai produzindo frutos,devido o investimento feito.

Quem está em Jesus define sua existência por esta relação.que indica estar n'Ele . Os frutos são consequência do estar n'Ele.

Permanecer e não produzir é uma mentira 

Quem não produz não está ( permanece ) n'Ele

3. Ações do Agricultor

O verso 2 é formado de 2 períodos antitéticos 

πᾶν κλῆμα ἐν ἐμοὶ μὴ φέρον καρπὸν αἴρει αὐτό

“Toda a vara em mim, que não dá fruto, Ele a tira " (αἴρει )

πᾶν τὸ καρπὸν φέρον καθαίρει αὐτὸ 

"Toda a vara que dá fruto Ele limpa(poda)( καθαίρει)

a) O verbo  αἴρει é para que os ramos deem mais fruto

Não podemos esquecer da centralidade da parábola : 

É o Pai quem tem a função de retirar o ramo que não produz fruto.

Antes de produzir frutos já houve a ação de não permanecer,o que indica um estado determinado

O fruto é a observância do mandamento amar ( verso 12 ).

O permanecer aqui é vínculo determinante e não ligação física 

O verso 6 indica as ações aos ramos que não produzem

2 aoristos passivos : ἐβλήθη,ἐξηράνθη 

presentes : συνάγουσιν,βάλλουσιν 

1 passivo : καίεται

O sujeito que recebe as 2 primeiras ações se torna objeto dos 2 verbos impessoais e finalmente sofre a última ação.Isso mostra que há uma consecução nas ações até o ponto final.

Há sem dúvida uma dimensão escatológica do texto. Estar na videira tem um objetivo:tornar-se discípulo

πᾶν τὸ καρπὸν φέρον καθαίρει αὐτὸ 

b) O verbo καθαίρει diz sobre "limpar". Como é essa limpeza o texto não diz,mas afirma que os ramos já estão limpos por causa da palavra : Jesus

O Agricultor está sempre verificando a vivacidade dos ramos ou a qualidade da relação com Jesus a videira

3. O Pai aparece com o fim do processo de tornar o discípulo

Permanecer é tornar um discípulo :

. Na perspectiva de Jesus é permanecer n'Ele

. Na perspectiva do Pai é sua glorificação

 A PALAVRA QUE PURIFICA 

O nível agora não é mais metafórico :

ὑμεῖς mostra isso e κλῆμα do verso 2 ( aquele e vós )

O texto chama a atenção de como acontece essa poda ( διὰ τὸν λόγον  ),é essa ideia de João 8:31 

No verso 3 λόγον e no verso 7 ῥήματά A ação da palavra (  λόγον  e  ῥήματά  ) mostram que a ação não é algo enviado ( de forma externa )mas está intimamente ligada a ação da palavra e é Jesus que faz serviço de amor,que poda  soberba e nos torna puros .É a junção da palavra falada e da palavra revelada 




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