quinta-feira, 14 de julho de 2016

IDENTIDADE CRISTÃ

A IDENTIDADE DA IGREJA DO SENHOR JESUS


III . CONSIDERAÇÕES  TEOLÓGICAS


TEMA :  A IGREJA DE DEUS: ORIGEM, CARACTERÍSTICA E MISSÃO


INTRODUÇÃO



“Não existe uma Eclesiologia desligada da Cristologia, no sentido de uma mística de Cristo ou da Igreja, pois em Cristo o Deus da Antiga Aliança, o qual fundou a Nova Aliança, fala, e a assembléia neotestamentária de Deus em Cristo nada mais é do que o cumprimento perfeito da assembléia vétero-testamentária de Deus. O mesmo Deus falou e fala a Israel com a palavra da promessa e aos cristãos com a palavra do cumprimento desta promessa.”

1) Cristologia & Eclesiologia:


A Cristologia consiste na compreensão da Igreja a respeito da Pessoa e Obra de Cristo. Na Eclesiologia, deparamo-nos com o estudo concernente ao Corpo de Cristo, do qual somos parte integrante. Na Teologia Reformada, esta compreensão – Cristológica e Eclesiológica – é buscada na Palavra de Deus, em submissão ao Espírito, considerando também, as contribuições formuladas pela igreja através da história. Nesta consideração histórica, devemos ter em mente que: a) somente as Escrituras são infalíveis, não as interpretações das Escrituras, quer pretéritas, quer presentes; b) o Espírito age na igreja e através dela, na interpretação da Verdade revelada, conduzindo-a à verdade (Jo 14.26; 16.13-15/2Pe 1.3-15). Por isso, de nenhum modo podemos desconsiderar gratuitamente as contribuições históricas, sem corrermos o risco de anular o que o Espírito tem feito através dos Seus servos. Portanto, c) A fé nunca pode estar dissociada desta pesquisa.

Em outro lugar[241] tratamos da questão da evangelização, abordando uma definição comumente usada, que consiste em dizer que “Evangelizar é pregar a Cristo”. Dissemos então, que acreditamos que nenhum evangélico discordaria desta proposição. A questão, que ainda nos parece fundamental, é saber, de que Cristo estamos falando: do Cristo revelado nas Escrituras, Divino, Eterno, Senhor, Soberano, igual em poder, honra e glória, ao Pai e ao Espírito Santo?, ou um Cristo, criado pela “fantasia” dos cristãos primitivos, destituído de Sua Glória, sendo o “produto da fé” dos discípulos? Se queremos pregar a Cristo, devemos “definir” quem é o Cristo que anunciamos ou, em nossa perspectiva, aceitar a definição bíblica de Cristo. A questão de quem é o Cristo que cremos e pregamos permanece; esta tem sido ao longo da História uma das indagações mais relevantes para a nossa fé

A concepção Reformada não consiste num esforço para atribuir a Cristo valores que julgamos serem próprios Dele; antes ela se ampara no reconhecimento e na aceitação incondicional de Suas reivindicações. Assim, aquilo que dizemos de Cristo, permanecerá ou não, conforme seja fiel à proclamação do Verbo de Deus. Por isso, a vivacidade da Cristologia Reformada e, por que não, da sua proclamação, estará sempre em sua fidelidade à Cristologia do Cristo.
Cristo por Ele mesmo; este é o anelo de toda Cristologia Reformada, e portanto, o fundamento de toda a nossa proclamação. Deste modo, devemos indagar sempre a respeito de nossas convicções e testemunho, avaliando-os através dAquele que verdadeira e compreensivelmente diz Quem é.
Neste afã, devemos estar atentos ao fato de que Cristo por Ele mesmo, envolve o limite do que foi revelado e o desafio do que nos foi concedido. Não podemos ultrapassar o revelado, contudo, não podemos nos contentar com menos do que nos foi dado.[242] Procurar a Cristologia do Cristo eqüivale a buscar compreender em submissão ao Espírito tudo o que foi revelado para nós (Dt 29.29b/Rm 15.4). Por certo, este conhecimento não estará restrito ao Cristo Salvador, mas além disto nos fala do Cristo Deus-Homem; do Cristo Eterno e Glorioso. Aliás só podemos falar do Cristo Salvador, se Ele de fato for – como é –, o Deus encarnado, visto que a nossa redenção não foi levada a efeito pelo Logos divino, nem pelo “Jesus humano”, mas por Jesus Cristo: Deus-Homem.[243]
A Cristologia se constitui no cerne de toda Teologia Cristã.[244] Ela é o eixo da Teologia Bíblica: uma visão defeituosa da Pessoa e Obra de Cristo, determina a existência de uma "teologia" divorciada da plenitude da Revelação bíblica. A consciência deste fato deve nortear o nosso labor Cristológico e também servir como referência e ponto de partida teológico... Não podemos falar do corpo em detrimento ou à revelia de Sua cabeça.[245] Fazer esta separação significa dilacerar o Corpo de Cristo e, consequentemente a Cabeça. A visão correta a respeito da Igreja passa, necessariamente, pela correta compreensão de Quem é o Cristo, o Filho de Deus.

2) Qual Igreja?


Quando tratamos da Igreja, é natural que alguém pergunte: de qual Igreja estamos falando? De fato, com a variedade de denominações e seitas supostamente cristãs, que amiúde se dizem detentoras da verdade, torna-se difícil identificar a “verdadeira Igreja de Deus”, distinguir o joio do trigo. Quando isto acontece, há a tendência de se generalizar, repudiando-se todas as igrejas ou, passar a olhá-las com ceticismo e ironia

A IGREJA DE DEUS :


1. Considerações Gramaticais :


A nossa palavra "Igreja", é uma tradução do grego e)kklhsi/a, que no grego antigo, significava uma assembléia de cidadãos convocados pelo pregoeiro; a assembléia legislativa. (At 19.32,39,40). A palavra e)kklhsi/a, é formada por duas outras: e)k ("fora de") & kale/w ("chamar", "convocar"), significando: "Chamar para fora". e)kklhsi/a ocorre cerca de 114 vezes no Novo Testamento.
Tomando o sentido etimológico de e)kklhsi/a, podemos dizer que "Deus em Cristo chama os homens 'para fora' do mundo".[246] A Igreja é constituída por aqueles que estavam mortos, mas que receberam vida – regeneração –, pelo Espírito.[247] Portanto, o ponto em comum entre todos os cristãos, é o fato de termos sido chamados por Deus: a Igreja se reúne porque Deus a convocou; e ela também o faz, para ouvir a voz do Seu Senhor.[248](Vd. At 10.33).
De modo geral, e)kklhsi/a apresenta diversas significações subordinadas no Novo Testamento:
a) O círculo dos crentes reunidos num lugar específico para cultuar a Deus: uma comunidade local: (At 5.11; 8.1; 11.22,26;12.1,5; 1Co 11.18; 14.19.28,35; Rm 16.4; Gl 1.2; Cl 4.16 1Ts 2.14). Denotando em alguns casos uma “Igreja doméstica”, que se reunia na casa de algum irmão (Rm 16.5, 23; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2).
b) Um conjunto de Igrejas locais: (At 9.31/At 14.23; 15.41; 16.4-5; 1Co 16.1/Gl 1.2; Ap 1.4,11). Algumas vezes mesmo a palavra Igreja não sendo empregada no plural, subentende-se que faz alusão a diversas pequenas comunidades, já que havia centenas ou mesmo milhares de membros, como o caso da Igreja de Jerusalém (At 8.1; 11.22).c) O corpo daqueles que através do mundo professam sua fé em Cristo e que constituem a Sua Igreja: 1Co 10.32; 11.22; 12.28; Ef 1.22; 3.10,21; 5.23-25,27, 32; Cl 1.18,24; Hb 12.23)


2. Definição de Igreja:


Podemos definir a Igreja como sendo a comunidade de pecadores regenerados, que pelo dom da fé, concedido pelo Espírito Santo, foram justificados, respondendo positivamente ao chamado divino, o qual fora decretado na eternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em santificação, proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o Evangelho da Graça de Deus, até que Cristo venha

3. O ESPIRITO DA IGREJA

“A comunidade de Jesus vive sob a inspiração do Espírito Santo; este é o segredo de sua vida, de sua comunhão e de seu poder”

O Espírito está tão essencialmente ligado à igreja que, na linguagem de Pedro, mentir à igreja é o mesmo que mentir ao Espírito (At 5.3,9). Dentro de outra perspectiva, declara Bavinck (1854-1921): “Assim como Cristo em Sua concepção assumiu a natureza humana e nunca colocou-a de lado, assim também o Espírito Santo no dia de Pentecostes passou a usar a Igreja como Sua morada e como Seu santuário e nunca se separará dela.”[250] Vejamos como o Espírito age na igreja


3.1. ESTABELECE A IGREJA


O Espírito está tão essencialmente ligado à igreja que, na linguagem de Pedro, mentir à igreja é o mesmo que mentir ao Espírito (At 5.3,9). Dentro de outra perspectiva, declara Bavinck (1854-1921): “Assim como Cristo em Sua concepção assumiu a natureza humana e nunca colocou-a de lado, assim também o Espírito Santo no dia de Pentecostes passou a usar a Igreja como Sua morada e como Seu santuário e nunca se separará dela.”[250] Vejamos como o Espírito age na igreja

a)  Estabelece a Igreja


Sem o Espírito não haveria Igreja; isto, porque não haveria crente em Cristo. A Igreja é composta por pessoas que confessam o Senhorio de Cristo e, isto só é possível pela ação poderosa do Espírito (Cf. 1Co 12.3/Rm 10.9-10).
A Igreja é uma comunidade de pecadores regenerados. A regeneração é efetuada pelo Espírito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5). Logo, sem a ação regeneradora do Espírito, não existiria cristãos nem Igreja.
O Espírito é a alma da Igreja, Quem lhe dá ânimo e vitalidade. É o Espírito Quem dirige os homens à porta de salvação que é Cristo (Jo 10.9). Através da História o Espírito tem estabelecido a Igreja, chamando através da Palavra os homens para constituírem a Igreja de Deus. “Do mesmo modo que o Espírito Santo formou o corpo físico de Jesus Cristo na encarnação, assim também forma o corpo místico de Jesus Cristo, ou seja, a igreja.”[251]
Boanerges Ribeiro acentua a especificidade e especialidade da Igreja:
“A Igreja resulta de uma ação especial, não ‘rotineira’, de Deus entre os homens. O que organiza a Igreja, o que faz dos indivíduos de outra forma dispersos uma comunidade é a presença permanente de uma pessoa certa e determinada, o Santo Espírito Divino.”[252]
A Igreja é a comunidade daqueles que foram chamados do mundo para Deus pela operação do Espírito, daqueles “que tem a mesma fonte genética, o sangue de Cristo, o novo nascimento.”[253]

b) Unifica a Igreja

Todos os crentes estão unidos pela fé comum em Jesus Cristo, tendo sido selados pelo mesmo Espírito que atua em nós, tornando-nos em Seu Templo (1Co 3.16; 6.19; Ef 1.13). No Antigo Testamento, “o santuário era o penhor ou emblema do pacto de Deus”;[254] era o sinal concreto e visível da presença de Deus que, obviamente, ultrapassava em muito os limites do templo.
A Igreja, por sua vez, constituída de todos os eleitos de Deus. Participar da Igreja é parti cipar da unidade e da comunhão do Espírito (2Co 13.13; Fp 2.1), no qual todos nós temos acesso ao Pai (Ef 2.18). Esta comunidade tem como lema de vida o amor, que caracteriza a Igreja de Cristo.[255]
A harmonia multifacetada da Igreja está no fato de que toda a diversidade cumpre o seu papel específico dentro do Corpo vivo de Cristo. Esta é uma das facetas da Obra do Espírito na Igreja (1Co 12.4,12,13,14,25/Ef 4.3). Na Igreja há a igualdade e a diferença convivendo conjuntamente. Todos estamos unidos pela fé comum e obediência ao cabeça, que é Cristo Jesus.
No capítulo 17 do Evangelho de João, versos 20-23, encontramos Jesus orando para que o Seu povo permanecesse unido. F.F. Bruce (1910-1990) comenta que, “a unidade pela qual Ele ora é uma unidade de amor, na verdade trata-se da participação deles na unidade de amor que existe eternamente entre o Pai e o Filho.”[256]
Analisemos agora, alguns aspectos desta unidade

O QUE É A UNIDADE?

a)  Unidade não é Simplesmente Companheirismo Social:
A Igreja não é um grupo social que se reúne para lazer, diversão ou preservação da vida.[257] Na realidade, na relação cristã há um elemento vital que transcende a todas as outras relações humanas comuns. (1Co 1.9).
b) Unidade não é Uniformidade de Organização:
A Igreja não precisa necessariamente manter em todos os tempos e lugares a mesma forma de organização. Sem dúvida a organização é muito importante, todavia, ela deve estar a serviço do Evangelho com vistas ao estabelecimento da comunhão cristã (Vd. At 6.1-7).
c) Unidade não é Uniformidade de Vida:
A experiência comum dos crentes, é a transformação de sua vida pelo Espírito; contudo, isto não implica que tenhamos uma vida “uniformizada”; Deus transforma a nossa personalidade,[258] todavia não nos coloca dentro de uma forma. Deus transformou Jacó em Israel, Simão em Pedro, Saulo em Paulo, mas não converteu Pedro em Paulo, nem Jacó em Pedro. Nós somos livres em Cristo para fazer a Sua vontade, dentro das características próprias que Ele mesmo nos concedeu.
d) Unidade não existe em detrimento da Verdade
e) Produzida pelo Espirito
f) Unidade essencial
g) Unidade de propósito
h) Unidade é responsabilidade
i) Unidade é vivenciada


UM GRANDE EXEMPLO

Lucas descrevendo a cotidianidade da Igreja Primitiva, diz: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2.42). Observemos primariamente que a Igreja estava fundamentada não em qualquer doutrina (Mt 15.9); mas, sim, na doutrina dos apóstolos, que fora recebida de Cristo (At 1.21,22; Gl 1.10-12; 1Co 11.23ss; 15.1-3; 2Pe 1.16-21; 1Jo 1.1-4). Os apóstolos estavam alicerçados no próprio Cristo: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20). “A palavra dos apóstolos, primeiramente falada e posteriormente escrita, não apenas sustenta e garante a unidade da Igreja, mas também se espalhou por todo o mundo bem como em todas as épocas.”[292]
A Igreja Primitiva desfrutava de uma comunhão íntima, não artificial, gerada pelo Espírito Santo (At 2.42; 4.32/Ef 4.3). Jesus orou para que houvesse esta comunhão, a qual aponta de forma indicativa para a unidade amorosa do Pai com o Filho, e o amor divino manifesto em Cristo pelo Seu povo (Jo 17.20-23). Vejamos agora, algumas manifestações desta comunhão.

1. 1) Na Vida Devocional:


a) No Partir do Pão:

Cremos que a expressão “partir do pão” (At 2.42) refere-se à Ceia do Senhor (Cf. At 20.7,11). A Igreja participava deste Sacramento lembrando a morte e ressurreição de Cristo, atestando publicamente a sua fé no regresso glorioso e triunfante de Cristo, “... até que Ele venha” (1Co 11.26).
b) Nas Orações:
A Igreja sentia prazer espiritual em participar do privilégio de poder falar com Deus em companhia dos irmãos; não havia reuniões seccionadas. A Igreja era um todo que perseverava unanimemente no templo e nas casas. (At 1.14; 2.42,46; 3.1; 12.5,12).
c) Louvando a Deus:
O mesmo pode ser dito com respeito à adoração pública: “E estavam sempre no templo, louvando a Deus (Lc 24.53). A Igreja expressava a sua fé e gratidão louvando a Deus (At 2.47; Ef 5.18-20; Cl 3.16).

b) Na Vida Comunitária

Tratamento Sério dos Problemas Doutrinários:
Deve um gentio, para tornar-se cristão, circuncidar-se? Esta foi a questão debatida na reunião de Jerusalém (c. 48 AD). Com o rápido crescimento da Igreja, era natural que surgissem questões novas. Alguns fariseus que foram convertidos, faziam da pergunta acima, uma afirmação: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15.1); e mais: “... É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (At 15.5). Entretanto, Paulo e Barnabé criam de forma diferente (At 15.2). A questão foi encaminhada aos apóstolos e presbíteros de Jerusalém, que se reuniram em Concílio para estudar o problema (At 15.6). Após o debate (At 15.7), o Concílio pronunciou-se sobre a questão de forma unânime, com autoridade e simpatia (At 15.22-25), enviando para as Igrejas de Antioquia, Síria e Cilicia, a sua resolução, sendo Barnabé, Paulo, Judas e Silas os emissários (At 15.23,25,27).
Neste episódio, vemos a preocupação dos apóstolos e presbíteros em resolver as questões doutrinárias, a fim de que o corpo de Cristo continuasse são doutrinariamente e harmonioso. O resultado disso foi que as Igrejas se alegraram no Senhor e “... eram fortalecidas na fé e aumentavam em número dia a dia” (At 16.5. Leia também: At 15.30-33; 16.4).
Herman Bavinck (1854-1921), falando sobre a unidade da Igreja, aponta de forma exultante para a unidade escatológica:
“A unidade sobre a qual Cristo tinha falado [Jo 17.21] foi realizada na igreja de Jerusalém. Quando o entusiasmo do primeiro amor deu lugar à quietude do coração e da mente, quando as igrejas foram estabelecidas em outros lugares e entre outros povos, quando, mais tarde, todos os tipos de cisma e de separação começaram a ocorrer na Igreja cristã, a unidade que une todos os crentes assumiu uma forma diferente, tornou-se menos vital e menos profunda, e algumas vezes é tão fraca que nem mesmo pode ser sentida por todos. Mas nós não podemos nos esquecer que no meio de tantas diferenças a Igreja permanece unida até os nossos dias. No futuro essa unidade se tornará ainda mais 
claramente manifesta do que na igreja de Jerusalém.”[295

.Dirige a Igreja
.Na Evangelização
.

 1.)Em Jerusalém O resultado da pregação eficiente e de uma vida cristã autêntica, além de outras coisas secundárias, redunda na Glória de Deus (Mt 5.14-16; 2Co 9.12-15), resultando naturalmente, conforme o exemplo bíblico, no crescimento espiritual e numérico da Igreja. O Livro de Atos registra que enquanto a Igreja testemunhava e vivia o Evangelho, “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47); e mais: “Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7. Leia também: At 2.41; 4.4; 9.31; 12.24; 14.1)

 2.)Até os confins da terra.

Após o eloqüente e desafiante sermão de Estevão e, a sua conseqüente morte por apedrejamento (At 7.1-60) – a forma judaica de executar os culpados de blasfêmia (Lv 24.16; Jo 10.33) – o grupo inquisidor estimulado por esta atitude assassina, promoveu “... grande perseguição contra a igreja de Jerusalém” (At 8.1), com a permissão do sumo sacerdote (At 8.3; 9.1,2).
O termo usado em At 8.1 para descrever a “perseguição” apresenta a idéia de uma caça violenta e sem trégua. Lucas, inspirado por Deus, pinta este quadro de forma mais forte, adjetivando “grande”, indicando assim, a severidade da perseguição. Saulo foi o grande líder desta ação contra os cristãos (At 8.2; 9.1,2; 22.4,5; 26.9-12).
Nesta primeira grande perseguição, vemos claramente a direção divina


O verbo usado para descrever a “dispersão” (At 8.1,4), está ligado à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Testamento e somente para descrever este episódio (* At 8.1,4; 11.19). Assim, através da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do Evangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).
Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converteram (At 8.5-8), posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At 8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse semelhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa –, que se converteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “... Filipe veio a achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesaréia” (At 8.40).
Outro fato que evidencia a ação providencial de Deus na perseguição de Jerusalém, está registrado em At 11.19-21, onde lemos no verso 19: “... Os que foram dispersos, por causa da tribulação que sobreveio a Estevão, se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia...”. Nos versos 20 e 21 temos ainda a proclamação expandindo-se: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”. Vemos, desta forma, que o Evangelho estava sendo disseminado, tendo como elemento gerador uma perseguição que parecia ser fatal para a Igreja de Cristo; entretanto Deus a redundou em bênçãos para o Seu povo (Gn 50.20/Rm 8.28).
A difusão do Evangelho é demonstrada mais tarde, ainda no período neotestamentário, através das Epístolas de Tiago e Pedro, sendo a de Tiago destinada “... às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1) e a de Pedro, “... aos eleitos, que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, e Bitínia” (1Pe 1.1. Leia também, At 17.6)


3. Zelo cego de Paulo

 Deus o chamou eficazmente (At 9.1-5), regenerando-o, porque para Deus, Saulo era “... um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15). Mais tarde, Paulo, o antigo Saulo, escreveu aos gálatas: “Quando, porém ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu pregasse entre os gentios...” (Gl 1.14,15). Saulo, o grande perseguidor, agora era Paulo, o apóstolo de Cristo levando a mensagem salvadora do Evangelho a todos os povos, chegando à capital gentílica (Roma) e, desejando prosseguir em sua missão, se possível, atingir a Espanha (At 28.16ss; Rm 15.22-29).


4. Constitui oficiais

Na Igreja de Cristo ninguém tem autonomia para se auto-nomear. Pastor, Presbíteros e Diáconos, todos, sem exceção, precisam ser vocacionados por Deus para estes ofícios (Hb 5.4).
Os pastores,[311] presbíteros e diáconos, são constituídos por Deus para a preservação do rebanho. [312] A eleição feita pela igreja, deve ser vista como um reconhecimento público de que os referidos oficiais foram escolhidos por Deus; a eleição nos fala do processo não da fonte da autoridade dos eleitos.[313] Desta forma, a autoridade deles é derivada de Deus, não do povo que os elegeu;[314] por outro lado, eles precisam ter em mente que prestarão contas dos seus atos a Deus. O Novo Testamento nos chama a atenção para o ministério universal dos crentes: todos somos responsáveis pelo desempenho do serviço de Deus em Sua Igreja (Ef 4.11-12).
A Segunda Confissão Helvética (1562-1566),[315] no capítulo XVIII, falando sobre os “ministros da Igreja”, declara:
“É verdade que Deus poderia, pelo Seu poder, sem qualquer meio, congregar para Si mesmo uma Igreja de entre os homens; mas Ele preferiu tratar com os homens pelo ministério de homens. Por isso os ministros devem ser considerados não como ministros apenas por si mesmos, mas como ministros de Deus, visto que por meio deles Deus realiza a salvação de homens.”
A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, (1950), capítulo VII, seção 1ª, Art 108, diz:
“Vocação para ofício na Igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do povo de Deus, por intermédio de um concílio.” (Vd. At 20.28).
Calvino (1509-1564) comenta:
“O que torna válido um ofício é a vocação, de modo que ninguém pode exercê-lo correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus (...). Nenhuma forma de governo deve ser estabelecida na Igreja segundo o juízo humano, senão que os homens devem atender à ordenação divina; e, ainda mais, que devemos seguir um procedimento de eleição preestabelecido, para que ninguém procure satisfazer seus próprios desejos. (...) Segundo é a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim Ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e forma de sua administração.”[316]
“A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele.”[317]
O serviço que prestamos a Deus, deve ser visto não como uma fonte de lucro ou projeção mas como resultado de um chamado irrevogável de Deus. Paulo em seu ministério tinha esta consciência, de ser apóstolo pela vontade de Deus (Vd. Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1, etc.


 5, Dirige a Igreja nas Suas Decisões

Muitas vezes somos tentados a nos esquecer de que a Igreja é também uma organização, que tem os seus oficiais e Concílios. Geralmente quando isso ocorre, somos levados a menosprezar as decisões conciliares, como sendo “obras de homens”, portanto, concluímos: nada valem. Na realidade, os Concílios devem trabalhar sob a orientação do Espírito Santo, o que não significa que eles sejam infalíveis; todavia, “os seus decretos e decisões, sendo consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reverência e submissão, não só pela sintonia com a Palavra, mas também pela autoridade através da qual são feitos, visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus, designada para isso em sua Palavra.”[318]
O Espírito através do Concílio de Jerusalém, dirimiu uma dúvida existente no seio da Igreja. Os apóstolos e presbíteros que participaram deste Concílio, debateram e votaram a questão, tendo consciência da orientação do Espírito. Esta convicção se revela no fato de dizerem no parecer final: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós....” (At 15.28).
Devemos portanto ter um alto apreço pelos nosso oficiais e Concílios, orando para que o Espírito que os constituiu, Lhes dê o discernimento necessário para decidirem todas as coisas, sob a égide do Espírito através da Palavra. (At 15.1-28; 16.4)

6. À Verdade:

Se não fosse a Sua ação iluminadora, orientadora e diretora, a Igreja estaria para sempre afogada no mar de crendices, superstições e erros; todavia, o Espírito tem nos guiado à verdade através da Palavra (Jo 16.13; 2Tm 3.16-17).
A elaboração doutrinária da Igreja no decorrer dos séculos, se cristalizando nos Credos e Confissões, é uma evidência da direção do Espírito.[327] O ato de depreciar os Credos significa deixar de usufruir das contribuições dos servos de Deus no passado referentes à compreensão bíblica; “é uma negação prática da direção que no passado deu o Espírito Santo à Igreja.”[328] Por isso é que, “desrespeitar a tradição e a teologia histórica é desrespeitar o Espírito Santo que tem ativamente iluminado a Igreja em todos os séculos.”[329]
Os Credos nos oferecem de forma abreviada o resultado de um processo cumulativo da história, reunindo as melhores contribuições de diversos servos de Deus na compreensão da Verdade. Em outro lugar, referindo-nos à ciência, enfatizamos que ela não tem pátria nem idade; não sendo privilégio de um povo, menos ainda de um indivíduo; todo cientista – usando a figura de João de Salisbury (c. 1110-1180)[330] – eqüivale a um anão sobre os ombros de gigantes, se valendo das contribuições de seus predecessores, a fim de poder enxergar um pouco além deles. Podemos aplicar esta figura à teologia. Aliás, Packer já o fez, mais especificamente aplicando à tradição: “A tradição nos permite ficar sobre os ombros de muitos gigantes que pensaram sobre a Bíblia antes de nós. Podemos concluir pelo consenso do maior e mais amplo corpo de pensadores cristãos, desde os primeiros Pais até o presente, como recurso valioso para compreender a Bíblia com responsabilidade. Contudo, tais interpretações (tradições) jamais serão finais; precisam sempre ser submetidas às Escrituras para mais revisão.”[331]
A busca da verdade pela verdade é uma característica fundamental da Igreja. Já que cabe à Igreja o privilégio responsabilizador de proclamar a Palavra, ela tem de compreender as Escrituras para anunciá-la com fidelidade e vivenciá-la para proclamar com autoridade. Por isso, a Igreja é chamada de “coluna e baluarte da verdade”, porque a ela foram confiados os oráculos de Deus (Rm 3.2/1Tm 3.15). A Igreja como baluarte da verdade esta amparada no fundamento que consiste na obra de Deus realizada através de Cristo (Mt 16.18/Ef 2.20).[332]

7. No Seu Crescimento:

O Espírito alimenta a Igreja, fazendo-a crescer espiritual e numericamente. Creio que o crescimento significativo ocorre nesta ordem. Quando a Igreja conhece a Palavra e a pratica, prega com maior autoridade e, enquanto anuncia e vive o Evangelho, o Senhor por Sua misericórdia, acrescenta o número de salvos. É justamente isto que vemos em Atos: a Igreja pregava a Palavra com fidelidade, vivendo o Evangelho com sinceridade e o Espírito fazendo a Igreja crescer. A melhor estratégia é a do Espírito Santo e, o método infalível de Deus é a pregação fiel da Palavra; a pregação do Evangelho compete ordinariamente a nós; é função exclusiva da Igreja; não há outra entidade, agremiação ou organização a qual Deus tenha incumbido deste privilégio responsabilizador. "A Igreja é uma instituição especial e especialista, e a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar."[333] No entanto, o crescimento, é obra do Espírito. (Vd. At 2.47; 4.4; 6.7; 9.31; 12.24; 14.1; 16.4-5).
Observemos também, que muitas vezes, a responsabilidade do não crescimento da Igreja está em nós, que nos entregamos a uma letargia espiritual, não amadurecendo em nossa fé e, conseqüentemente, não apresentando um testemunho genuíno (Vd. Hb 5.11-14/1Co 3.1-9; Ef 4.11-16). Devemos aproveitar as oportunidades que Deus nos dá, aprendendo a Palavra, fortalecendo a nossa fé, sendo educados por Deus e, assim, viver de modo digno do Senhor, testemunhando o Evangelho com fidelidade e autoridade

8.  Na Interpretação dos Fatos

Jesus Cristo mostrou ao povo que os homens, por mais simples que sejam, sabem raciocinar, e isto era evidente na interpretação das condições climáticas. Todavia, Ele os recrimina por não estarem usando desta capacidade para discernir o que era justo no que se referia ao próprio Cristo (Lc 12.54-57). Jesus dá a entender que, nesta questão, eles eram apenas conduzidos pelos seus interesses circunstanciais e egoístas.
O Espírito Santo agiu na Igreja fazendo com que fosse registrado as Epístolas e o Apocalipse; hoje, Ele continua dirigindo a Igreja na interpretação dos fatos, concedendo-nos discernimento para ver e interpretar os sinas dos tempos. Isto faz parte do Ministério do Espírito que, como Jesus mesmo disse, Ele “vos anunciará as cousas que hão de vir” (Jo 16.13).(Vd. Mt 16.1-4/1Tm 4.1; 2Tm 4.1-5).[334]
Cabe à Igreja viver o presente de tal forma que revele a sua interpretação correta dos fatos. A nossa postura no mundo não é nem pode ser estranha à nossa cosmovisão (Vd. Rm 13.11-14; Ef 5.8,14-16)

9. Conforta a Igreja


A Igreja no Novo Testamento logo enfrentou uma série de perseguições, geradas num primeiro momento, pelos judeus. Para citar apenas algumas, temos a perpetrada contra Estevão, que morreu apedrejado (At 7.1-60); a de Herodes Agripa I, que prendeu a Pedro e decapitou Tiago (At 12.1-3); Paulo, o antigo perseguidor do Evangelho, foi aquele que mais sofreu perseguições (At 9.23-25,29; 14.2-7,19; 16.19-24; 17.4-9, 13-15; 21.30-32).
Escrevendo aos coríntios, Paulo faz um resumo do que havia sofrido pelo Evangelho de Cristo (2Co 11.23-33). Contudo, havia nele, uma visão constante que transpunha o sentimento de dor e angústia. Na prisão, escreveu aos filipenses: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1.12) e, diz mais: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4.4). O Evangelho prosseguia em sua caminhada vitoriosa a despeito dos obstáculos erguidos contra ele.
Paulo estava convencido e, demonstrava isto na prática, que Deus nos faz vencer os obstáculos que estão à nossa frente. Enumeremos alguns que podem ser inferidos do texto de Filipenses:
1) Desânimo: (1.18) Ele poderia desanimar quando viu que alguns pregavam a Cristo por inveja. Entretanto, se alegrou porque sabia que apesar desta motivação ímpia, o Evangelho estava sendo pregado e nisto ele se alegrava.
2) Apego à vida: (1.20-21) A possibilidade concreta da morte é para maioria de nós o limite da coragem. Paulo, pelo contrário, não temia a morte; ele diz que vivendo ou morrendo, Cristo seria engrandecido nele... A morte, que consistia no encontro com Cristo, seria lucro, algo incomparavelmente melhor! (1.21,23).
3) Egoísmo: (1.22-26) Paulo coloca de lado os seus desejos pessoais para preferir permanecer ali, mesmo que na prisão, a fim de poder ajudar o progresso da fé de todos os irmãos. A sua prioridade naquele momento, era contribuir para o crescimento espiritual dos seus irmãos...
4) Indignidade: (1.27) Ele poderia estar blasfemando contra Deus e ofendendo os homens por sua injusta prisão; todavia, ele está vivendo dignamente, testemunhando com sua palavra e os seus atos o Evangelho do Reino e, ensinando os irmãos a viverem como ele, de modo digno do Senhor.
5) Temor: (1.27-30) Paulo estava preso e os irmãos de Filipos sofriam perseguições. Ele corajosamente os estimula a permanecerem firmes no Senhor, assim como ele estava, sem temor.
A perseguição não encerrou-se no primeiro século; a Igreja através de toda a História tem sido alvo de ataques físicos, morais, intelectuais e espirituais; todavia, ao lado destas afrontas, ela tem podido desfrutar da presença confortadora do Espírito Santo. O Espírito que habita em nós, nos conforta em todos os momentos, nos amparando quando parece que não temos onde ou em quem nos apoiar. “Assim, o Espírito Santo é o autor imediato de toda a verdade, de toda a santidade, de toda a consolação, de toda a autoridade e de toda a eficiência nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente.”[335]
De fato, o Senhor Jesus não nos deixou órfãos; Ele, Ele mesmo está conosco aqui e agora, e para sempre (Jo 14.16-18/At 9.31).
Calvino, orienta-nos pastoralmente: “.... A Igreja será sempre libertada das calamidades que lhe sobrevêm, porque Deus, que é poderoso para salvá-la, jamais suprime dela sua graça e sua bênção.”[336] Portanto, “se algo de adverso lhe houver ocorrido, aqui também o servo do Senhor de pronto elevará a mente para com Deus, cuja mão muito vale para imprimir-nos paciência e serena moderação de ânimo.”[337] Ele comenta que, “todos os homens reconhecem que o mundo é governado pela providência divina; mas quando daí surge uma lamentável confusão de coisas a perturbar a tranqüilidade deles e os envolve em dificuldades, poucos são os que conservam em sua mente a inabalável convicção dessa verdade”




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