TEORIAS SOBRE A CRIAÇÃO
1. TEORIA DUALISTA.
Nem sempre o dualismo é apresentado de modo igual, mas, em sua formação mais usual, estabelece dois princípios auto-existentes, Deus e a matéria, distintos um do outro e, ao mesmo tempo, co-eternos.
Contudo, a matéria original é tida apenas como uma substância negativa e imperfeita (às vezes considerada má), que é subordinada a Deus e instrumento da Sua vontade (Platão, Aristóteles, os gnósticos, os maniqueus).
Segundo essa teoria, Deus não é o Criador, mas apenas o estruturador e artífice do mundo. Essa conceituação é objetável por várias razões:
(a) É errônea em sua ideia fundamental de que era preciso existir alguma substância da qual foi criado o mundo, desde que "ex nihilo nihil fit". Esta máxima só é verdadeira como expressão da ideia de que nenhum evento tem lugar sem alguma causa, e é falsa se tem o sentido de afirmar que nada poderia ser feito, a não ser com o uso de material preexistente.
A doutrina da criação não dispensa uma causa absolutamente suficiente do mundo na vontade soberana de Deus.
(b) Sua descrição da matéria como eterna é fundamentalmente falha. Se a matéria fosse eterna, teria que ser infinita em todos os sentidos, pois não poderia ser infinita num aspecto (duração) e finita noutros. Mas é impossível que dois infinitos ou absolutos coexistam. O absoluto e o relativo podem existir simultaneamente, mas só pode haver um ser absoluto e auto-existente.
(c) É antifilosófico postular duas substâncias eternas, quando uma só causa auto-existente é perfeitamente adequada para explicar todos os fatos. Por essa razão a filosofia não se satisfaz com uma explicação dualista do mundo, mas procura dar uma interpretação monistas do universo.
(d) Se a teoria presume – como faz nalgumas de suas formas – a existência de um princípio eterno do mal, não há absolutamente nenhuma garantia de que o bem triunfará sobre o mal no mundo. Ao que parece, aquilo que é eternamente necessário terá que se manter sempre, e jamais cair.
2. A TEORIA DA EMANAÇÃO, EM VÁRIAS FORMAS.
Essa teoria pretende que o mundo é uma emanação necessária do Ser divino. De acordo com ela, Deus e o mundo são essencialmente um, sendo este a manifestação fenomênica daquele. A ideia de emanação é característica de todas as teorias panteístas, embora nem sempre apresentada da mesma maneira. Aqui, de novo, podemos registrar várias objeções:
(a) Este conceito da origem do mundo virtualmente nega a infinidade e a transcendência de Deus por aplicar-lhe um princípio de evolução, de crescimento e progresso, que caracteriza somente o finito e imperfeito; e por identifica-lo com o mundo. Assim, todos os objetos visíveis vêm a ser apenas modificações transitórias de uma essência auto-existente, inconsciente e impessoal, que pode ser denominada Deus, natureza, ou Absoluto.
(b) Essa teoria furta a soberania de Deus, despojando-o do Seu poder de auto-determinação em relação ao mundo. Fica reduzido à base oculta da qual emanam necessariamente as criaturas, e que determina o seu movimento mediante uma inflexível necessidade da natureza. Ao mesmo tempo, priva todas as criaturas racionais da sua relativa independência, da sua liberdade e do seu caráter moral.
(c) Ela compromete igualmente a santidade de Deus de modo deveras grave. Faz de Deus o responsável por tudo quanto acontece no mundo, tanto pelo mal como pelo bem. Esta é, naturalmente, uma gravíssima conseqüência da teoria, conseqüência da qual os panteístas nunca puderam escapar.
3. A TEORIA DA EVOLUÇÃO.
Às vezes se fala da teoria da evolução como se pudesse ser uma substituta da doutrina da criação. Mas, evidentemente é um erro. É certo que não pode substituir a criação no sentido de originação absoluta, desde que pressupõe alguma coisa que evolui, e esta, em última instância, tem que ser eterna ou criada, de maneira que, depois de tudo,o evolucionista precisa escolher entre a eternidade da matéria e a doutrina da criação.
No máximo, pode-se imaginar que serve como substituta da chamada criação secundária, mediante a qual foi dada forma à substância já existente.
(a) Alguns evolucionistas, como Haeckel, por exemplo, crêem na eternidade da matéria, e atribuem a origem da vida à geração espontânea.
Mas, a crença na eternidade da matéria é não só decididamente anticristã e até mesmo ateísta; é também geralmente desacreditada.
A ideia de que a matéria, com a energia como sua propriedade universal e inseparável, é suficiente para a explicação do mundo, acha pouco apoio nos círculos científicos atuais.
Sente-se que um universo material, composto de partes finitas (átomos, elétrons etc.) não pode ser infinito; e aquilo que está sujeito a constante mudança não pode ser eterno.
Ademais, vai ficando cada vez mais claro que a matéria e a força ou energia cegas não podem explicar a vida e a personalidade, a inteligência e a vontade livre. E a idéia de geração espontânea é pura hipótese, não somente não verificada, mas também praticamente
desacreditada.
A lei geral da natureza, ao que parece, é “omne vivum e vivo” ou “ex vivo” (tudo que é vivo provém do que é vivo).
(b) Outros evolucionistas advogam o que chamam de evolução teísta. Esta postula a existência de Deus por trás do universo, que age nele, em geral de acordo com as inalteráveis leis da natureza e por meio de forças físicas somente, mas nalguns casos mediante intervenção miraculosa, como, por exemplo, no caso do início absoluto, do início da vida e do início da existência racional, como também moral.
A isso muitas vezes se tem chamado zombeteiramente, teoria do “tapa-brecha” (“stop-gap”). É realmente uma vergonha, dizer que Deus é chamado, a intervalos periódicos, a socorrer a natureza, remediando os abismos vazios que bocejam aos pés dela.
A doutrina da criação não é isso, nem tampouco uma coerente teoria da evolução, porquanto se define a evolução como “uma série de alterações graduais e progressivas, efetuadas por meio de forças residentes” (Lê Conte biólogo francês Pierre Lecomte du Noüy, 1883 – 1947, apud Larousse.)
De fato, evolução teística é uma contradição de termos. É tão destrutiva para a fé na doutrina bíblica da criação como a evolução naturalista; e recorrendo à atividade criadora de Deus de vez em quando, anula também a hipótese evolucionista.
Além dessas duas conceituações, podemos mencionar também a evolução criadora, de Bérgson, e a evolução emergente, de C. Lloyd Morgan.
O primeiro é um panteísta vitalista, cuja teoria envolve a negação da personalidade de Deus; e o último chega, por fim, à conclusão de que não lhe é possível explicar os emergentes, assim chamados, sem incluir algum fator último, que se poderia chamar “Deus”. ( Henri Bergson, em sua obra A Evolução Criadora, faz-nos o favor de apontar, as falhas e lacunas das hipóteses
evolucionistas dos seus antecessores; e ao falar da sua, fala com termos realistas e modestos, a ponto de Per Hallström, em seu discurso por ocasião da entrega do Prêmio Nobel de Literatura a Bérgson, em 1928, afirmar que “o próprio Bérgson considera que o seu sistema não é, sobre muitos pontos, senão um esboço que deverá ser completado nos seus pormenores pela colaboração de outros pensadores” (Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura, vol. XXVII,
Opera Mundi, Rio, 1971, p. 22.)
Observe-se o que Bergson diz do neolamarckismo e de “outras formas de evolucionismo”: “... o neolamarckismo não nos parece mais capacitado do que as outras formas de evolucionismo para resolver o problema” (dos “caracteres adquiridos” ou da transmissibilidade ou não das variações e diferenças nas diversas espécies), Ibid., A Evolução Criadora, pg. 110.
Na década de 1960 foi divulgada no Brasil, a hipótese evolucionista do padre francês Pierre Teilhard de Chardin, exposta em sua obra Lê Phénomène Humanine e noutras obras.
“Das hipóteses evolucionistas as mais interessantes são possivelmente as de Henri Bergson e Teilhard de Chardin. Aliás, são um tanto semelhantes, em que ambos falam de uma força vital presente na matéria e ambos reconhecem a criação básica de todas as coisas. As diferenças maiores entre os dois consistem nestes dois pontos:
1º - O que Bergson considera força vital, Chardin considera força vital consciente, mesmo a da rocha, por exemplo.
2º - O esquema de Chardin, embora elaborado a partir de dados científicos, é mais romântico e, por outro lado, pretende enquadrar-se numa perspectiva dinâmica do cristianismo. Bergson reconhece lacunas em sua hipótese – que considera um esboço que espera seja desenvolvido e
completado por outros depois dele. Chardin reconhece dificuldades e, em seus esforços para explica-las ou resolvê-las,entra em contradições e faz afirmações pueris”. (Odayr Olivetti, artigo inédito, “Como Surgiu o Mundo”).
A principal contradição nas obras de Bergson e Chardin é esta: a de partir de dados fenomenológicos para determinar realidades transcendentais (espirituais e eternas).
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