sábado, 27 de outubro de 2018

REGULAMENTAÇÃO DA ADORAÇÃO

                                           REGULAMENTAÇÃO DA ADORAÇÃO ( 1 CORÍNTIOS 14 )


Paulo dá continuidade ao que começou em 1 Corintios 12 sobre o uso dos dons,após uma pausa no capítulo 13 sobre como os dons devem obedecer o princípio normativo do amor.

Aqui Paulo parte para como esses dons devem ser controlados e enriquecidos.

Ele mostra: 

1. O contraste entre o dom de profecia e o dom de línguas ( 1 a 12 )

2. O valor comparativo desses dons ( 13 a 25 )

3. Regulamentação desses dons nos cultos da Igreja ( 26 a 40 )


Paulo salienta a profecia como o dom que deve ser desejado acima de todos entre os crentes, visto ser um poderoso meio de comunicação da mensagem espiritual, como também por ser aquele que mais se presta para ajudar os crentes a se desenvolverem e avançarem em sua inquirição espiritual. 

As línguas edificam essencialmente aquele que as fala, embora também profira louvores a Deus, mas a edificação da comunidade inteira é mais desejável e benéfica. Se alguém fosse capaz de interpretar o que ela diz em línguas, ou se viesse a ser seu intérprete, então a distinção entre a profecia e as línguas desapareceria; pois, nessa interpretação, as línguas assumem a mesma função da profecia

Os crentes de Corinto.desfrutavam de um uso abundante do dom da profecia, mas tinham abusado do mesmo. Em primeiro lugar, em sua busca e desejo pelos louvores humanos, tinham-se mostrado como um bando de filósofos sofistas, cada qual procurando ultrapassar ao outro quanto à eloquência.

A severidade da ordem de Paulo, que não permitia que as mulheres falassem na igreja, não é ordinariamente apreciada· pelos intérpretes modernos, os quais estão acostumados com culturas onde a posição da mulher melhorou muito em comparação com os tempos antigos. Naturalmente que mesmo na antiguidade havia exceções a essa regra. (mulheres na Macedonia, em Atos 17:4.Em contraste com isso, veja a posição das mulheres, extremamente subordinada, na sociedade judaica, em João 4:27,29). Portanto, a distinção que se faz em algumas denominações evangélicas modernas, que proíbe a mulher de falar nos "cultos de adoração", mas permite que mulheres ensinem em classes de Escola Dominical, para adultos ou para crianças, é inteiramente artificial, criada nos tempos modernos, e totalmente estranha para a antiga mentalidade rabínica.(  Os intérpretes injetam aqui «o que eles praticam», e não o que Paulo realmente ensinava.)

NOTA : 

Naturalmente, tal ponto de vista do papel da mulher é degradante, sem importar se foi Paulo ou outro qualquer que o ensinou; e por isso precisamos insistir que tais restrições estão inteiramente fora de lugar em razão do bom senso, bem como com o reconhecimento do fato que a mulher não é inferior ao homem. Além disso, a própria declaração de Paulo de que,em Cristo, não há macho e nem fêmea ( Gál. 3:28) -sendo essa uma avaliação verdadeiramente espiritual sobre a questão—, requer o relaxamento das antigas restrições tipicamente judaicas acerca das mulheres.

O corpo humano é exposto como uma ilustração instrutiva sobre a igreja cristã,onde esse princípio é traçado na seleção dos dons espirituais que são mais uteis para a comunidade inteira.


1. CONTRASTES ENTRE OS DONS

14: 1 "ζηλοΰτε δε τα πνευματικά, μάλλον δε ϊνα ' προφητεύατε."                                                                "Buscai com zelo os dons espirituais,mas principalmente o de profetizar"

Paulo reitera 1 Corintios 12:31,porém recomendando "os melhores dons ",mostrando que "buscar" não é contrária ao que o Senhor determinou(12:18).

Todos os dons espirituais são úteis, visto que todos eles são propiciados por Deus; mas nem todos se revestem de igual importância; e Paulo destaca esse fato, primeiramente, ao contrastar as línguas e a profecia. 

O dom da profecia deve ser mais intensamente desejado que qualquer outro dom espiritual, devido às seguintes razões, que Paulo se preparava para ventilar: 

1. A profecia visa a edificação da igreja (ver o terceiro versículo deste capítulo), o que é o tema mais reiterado deste capítulo, e não apenas a edificação do crente individual, como é o caso das línguas, quando não interpretadas. 

2. A profecia serve para exortar (ver o terceiro versículo). 

3. A profecia também serve para consolar (ver o mesmo versículo). 

4. A profecia é um meio de transmitir revelações e doutrinas (ver o sexto versículo). 

5. A profecia faz «soar» aquele toque da mensagem cristã que leva o crente a preparar-se para a batalha espiritual (ver o oitavo versículo). 

6. A profecia é uma voz clara, em um mundo de vozes confusas (ver o décimo versículo). 

7. A profecia é um meio de bênção, principalmente de ação de graças a Deus, do que a comunidade inteira pode participar (ver os versículos dezesseis e dezessete); por conseguinte, se assemelha às línguas e até lhe é superior, porque beneficia a todos, e não somente aquele que fala. 

8. A profecia é o dom espiritual que abençoa supremamente os crentes (ver o vigésimo segundo versículo). 

9. A profecia é uma m aneira de ensinar (ver o trigésimo primeiro versículo).

"Desejemos intensamente esse dom (a profecia), mais do que qualquer outro, sobretudo em relação às línguas"

14:2 "ό γάρ λαλώ ν γλώ σση ουκ άνθρώποις λαλεΐ άλλα θεώ, ούδεις γάρ ακούει, πνεύματι δε       λαλεΐ μυστήρια "

          "Porque ο que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o                               entende;porque em espirito fala mistérios."

Paulo se refere àqueles que falam em línguas, sem intérprete, o que, evidentemente, era uma prática comum na igreja de Corinto (versículos vinte e sete e vinte e oito ); porque falar em línguas, como interpretação, equivale à profecia. Nesse caso, aquele que fala em línguas não é inferior àquele que profetiza (quinto versículo )

Assim sendo, no que diz respeito à edificação, quem fala em línguas é nulo, fazendo-o sem propósito, se pensarmos na edificação alheia. Quem fala em línguas edifica somente a si mesmo. Mas isso quem fala em línguas pode fazê-lo privadamente, não desperdiçando o tempo do culto de adoração; e essa norma Paulo recomenda no vigésimo oitavo versículo.

Uma espécie de comunicação espiritual com o ser divino. O fato que as línguas podem ser "interpretadas" (versículos quinto e vigésimo sétimo), mostra-nos que elas devem ser idioma espiritual,diferente de Atos 2:7 e o cumprimento de Marcos 16:17 no livro de Atos com os gentios,onde não havia interpretação.» Aquele que fala em línguas diz "...mistérios...", mas isso não apenas no sentido que é deixado sem interpretação. O que Paulo queria dizer é que aquele que fala em línguas diz revelações profundas, emite profundas verdades espirituais, interpretações de verdades espirituais conhecidas, mas de alguma natureza incomum.

Para Paulo eram "segredos abertos", verdades divinas acerca de questões importantes, para que todos pudessem compreendê-las. ( Efésios 3:9, Mateus 13:10).

Isso não significa que os mistérios proferidos no dom de línguas sejam sempre alguma doutrina ou revelação extraordinárias. Mas significa que então é dito algo de significativo, doutrinária ou eticamente falando. 

Essa é uma das dificuldades que se encontram no  movimento pentecostal, porquanto, em muitas oportunidades, aquilo que é dito nessas "línguas" (se é que são dons) pertence a um baixo nível  mental e é extremamente difícil crermos que o Espírito Santo tenha algo a ver com manifestações de tão baixo nível. Parece lógico supormos que aquilo que é sobrenaturalmente conferido deve transcender à capacidade mental comum, pelo menos à capacidade daquele que fala. No entanto, muitas vezes, aquilo que é apresentado como se fosse proveniente do Espírito de Deus, é inferior ao que se diz sem qualquer inspiração. Em tais casos, podemos suspeitar que tais línguas se originam em fontes psíquicas, dentro da própria personalidade do indivíduo, e não devido a um contacto divino.

Seja como for, um "mistério" não terá proveito algum enquanto não for "revelado". Esse é o ponto que Paulo desejava frisar. Deve haver, portanto, um intérprete; de outro modo, as línguas não devem ser faladas na igreja. ( versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo). Antes, deve ser dada ênfase ao dom de profecia, porquanto esse dom envolve a "compreensão", e o resultado disso é a edificação, a exortação, o consolo e o ensino, bem como o desenvolvimento espiritual.

O falar em línguas faz a alusão ao Espírito Santo, a despeito da ausência do artigo definido no original grego, porquanto isso concorda melhor com o contexto dos capítulos doze e catorze, acerca dos "dons espirituais". No original grego, a letra "e" inicial, da palavra "espírito", não era escrita em letras maiúsculas em vista o Espírito Santo, pelo que nada se pode decidir com base de letras maiúsculas ou minúsculas. O  Espírito Santo está em foco, o qual se utiliza do espírito humano, para fazer suas comunicações. Sendo esse o caso, conforme se mencionou acima, poder-se-ia esperar "algo de extraordinário"(mistérios) como o tema de tal comunicação. É altamente improvável que meras banalidades sejam transmitidas através do dom de línguas, ou coisas que não estejam acima da capacidade mental normal de quem fala,já que o Espírito Santo realmente é o inspirador das línguas. Contudo, é possível que essas palavras, «em espírito»', talvez indiquem a idéia da transmissão de algum segredo antes oculto, em contraste da idéia da compreensão "com o entendimento".

Algumas razões mais para se crer assim:

1. Esse é o uso prevalente do termo «espírito», nos escritos de Paulo. 

2. Isso concorda melhor com o contexto geral, concernente aos dons do Espírito Santo, os quais são dados e regulados por ele. 

3. Em vista da palavra «espírito» ser usada formando contraste com o «entendimento», o que subentende alguma qualidade transcendental.


14:3  "ο δε προφ η τεύω ν ά,νθριόποις λ α λ ε ΐ οικοδομήν καί, παράκλησιν και πα ραμυθίαν" 

          "  Mas ο que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. "

Neste ponto o dom de profecia é contrastado com o dom de línguas. 

O que alguém diz na profecia, é iluminado por Deus. O próprio indivíduo compreende o que diz, ou, pelo menos, entende a maioria das palavras que profere. É guiado pelo Espírito Santo, para que diga coisas significativas e importantes; não repete meramente algum conhecimento que já tivesse como mestre, expandindo-as. Pode fazer isso, é verdade; mas as suas palavras envolvem um fenômeno iluminativo. Não se espera que aquele que profetiza ultrapasse as Escrituras; mas haverá sempre de ensinar elevadas verdades espirituais, que estejam  nas Escritas mas não entendidas. Quem profetiza fala como um agente direto do Espírito de Deus, e não indireta ou secundariamente como um mestre. . Quem profetiza também pode prever o futuro, visto que tal fenômeno transparece em profecias em que foram usados profetas do N.T., ainda que, nesta passagem específica, estejam muito mais em foco os ensinamentos iluminados.

Quando o profeta fala:

1. Ele é iluminado e transmite mensagens iluminadas. 

2. Sua mensagem edifica à igreja, e não se orgulha devido ao uso de seu dom. 

3. Não transforma a igreja em um teatro, entrando em competição com outros profetas. 

4. Em contraste com as línguas sem interpretação, o profeta fala a outros, para o bem deles, e não se dirige a si mesmo, visando o seu proveito próprio.

 No original grego, a palavra (οικοδομήν)era usada para indicar a ereção literal de edifícios, conforme se vê em Mateus 2:41 e Marcos 13:1,2. Porém, também era usada metaforicamente, no sentido de edificação espiritual, como um meio de desenvolvimento espiritual. ( I Cor. 8:1, I Cor. 10:23; 14:4,17; Rom. 15:20; Gál. 2:18 e I Tes. 5:11). Tal como um edifício qualquer é levado à sua totalidade e utilidade, mediante um processo contínuo de edificação e aprimoramento, assim também se dá no caso da alma humana, ou mesmo da comunidade de almas rem idas. Torna-se necessário um desenvolvimento gradual; porquanto nenhum crente se aperfeiçoa imediatamente, e nem de maneira fácil. A profecia é o dom espiritual que mais contribui para o nosso desenvolvimento em Cristo, para nossa transformação moral em Cristo, para nossa transformação metafísica à imagem de Jesus Cristo (ver Rom. 8:29, onde há uma nota de sumário sobre essa elevadíssima doutrina). Por essa razão é que o dom profético se reveste de tanta importância. De fato, de alguma m aneira, todos os dons espirituais visam exatamente esse propósito, o desenvolvimento espiritual do crente, segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, conforme aprendemos em I Cor. 12:7. 

No sentido de exercer a vontade, para que se faça o que é direito, e não para que se faça o que é mal. Essa palavra pode significar "exortação" (ver Fil. 2:1), «consolo» (ver II Cor. 1:4-7), «súplica» (ver II Cor. 8:4), ou mesmo a combinação de exortação e consolo, que também é "encorajamento" (ver Heb. 6:18). Está em pauta o despertamento da vontade para que se faça o que é correto e próprio. A maioria dos intérpretes entende que aqui se deve compreender a "exortação" no sentido de "encorajamento". 

Assim sendo, mediante o dom da profecia, o indivíduo pode ser encorajado, exortado, consolado, sujeito a uma súplica, porquanto compreende o que se diz; e aquilo que ouve tem o do poder do Espírito de Deus. Sem o acompanhamento da interpretação, entretanto, o dom de línguas não pode conseguir tal efeito; por conseguinte, as línguas formam um dom inferior ao da profecia. "...consolando..." 

No original grego, um vocábulo diferente do anterior é usado aqui, embora essas duas palavras pudessem ser sinônimas, ambas as quais dão a entender "consolo", embora a palavra que ora consideramos significa especificamente isso. Sua forma verbal, «paramutheomai», significa "animar", "encorajar", "consolar". Por conseguinte, sua forma nominal significa "encorajamento", "consolo". 

Há uma outra forma nominal dessa palavra que também significa «encorajamento», «consolo» ou «alívio». . Muitas são as aflições e as tristezas pelas quais devem passar todos os crentes. Pode-se observar facilmente, na experiência humana, que os crentes não são poupados, em qualquer sentido, da tristeza geral e das dores que afligem a humanidade em geral. No entanto, em Cristo, mediante o dom da profecia, há alívio para tais sofrimentos. Ouvimos falar acerca da providência de Deus, de seu amor e cuidado, de seu propósito, e a mente do crente é levada a compreender assim o propósito da agonia, bem como a esperança relativa ao futuro, quando toda a adversidade será finalmente eliminada, e quando a própria morte física (o pior dos males físicos) houver de ser tragada na vitória. Ora, o falar em línguas, sem a ajuda da interpretação, não pode realizar isso, não pode consolar, fortalecer, encorajar. Por isso é que o dom de línguas é inferior à profecia. Por esses motivos é que a profecia,  «...serve para melhor edificar a igreja cristã, para estimular a vontade dos crentes e para fortalecer o espírito cristão». «Edificação, ânimo, encorajamento, conforme a necessidade de cada um»(Barnabé que possuía esse dom altamente consolador, em Atos 4:36.) 

14:4 "ὁ λαλῶν  γλώσσῃ ἑαυτὸν οἰκοδομεῖ "

      " 0 que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja "

Nem mesmo o dom de línguas, desacompanhado de interpretação,deixa de ter seu devido propósito. As línguas podem servir de meio de edificação própria, ainda que a mente não entenda o que é dito. As línguas são um meio de entrarmos em contacto com o divino, ainda que o conhecimento não se beneficie. As experiências espirituais, até mesmo aquelas da mais elevada ordem, geralmente são inefáveis, isto é, sua natureza e seus resultados não podem ser bem expressos verbalmente. Não obstante, tais experiências produzem um efeito «purificador», um efeito elevador, um efeito até mesmo transformador. É óbvio que isso beneficia a pessoa envolvida; contudo, trata-se de um benefício de natureza egoísta, a despeito de ser aprovado e desejado pela vontade divina. 
Por essa mesma razão é que o apóstolo dos gentios jamais proibiu que se falassem em línguas  (trigésimo nono versículo ), ainda que tivesse recomendado que as línguas, sem interpretação, não fossem usadas na adoração pública (versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo). As línguas particulares seriam altamente benéficas para cada crente, porquanto nada há de errado com quem se comunica com Deus, ainda que o intelecto não tire proveito. No entanto, os crentes de Corinto apreciavam o caráter teatral das línguas, e lhe davam preferência acima da profecia, conforme este capítulo inteiro deixa subentendido. 
Esse foi o «abuso» que Paulo procurou corrigir. 
O dom profético, em contraste com as línguas, é uma manifestação de natureza altruísta; portanto, está mais conforme ao grande princípio do amor cristão (altruísmo puro), segundo Paulo havia 
demonstrado no décimo terceiro capítulo desta epístola. 
Esse exaltado princípio do amor cristão é que deve governar todas as atividades da igreja cristã; portanto, em uma comunidade cristã bem orientada pelo Senhor, o dom profético terá proeminência sobre as línguas. A profecia é tão mais importante que o dom de línguas como a edificação da congregação inteira é mais importante que a edificação de uma única pessoa.
A impressão causada sobre aquele que fala em línguas, por sua ejaculação verbal, visto tudo suceder em um arrebatamento, e sem concepção clara (décimo segundo versículo ), deve ser vaga; mas isso confirma poderosamente a sua fé, porquanto deixa um senso permanente de possessão do Espírito de Deus (comparar com II Cor. 12:1-10). Nossos mais profundos sentimentos entram na mente abaixo da superfície do consciente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário