O DOM DE LÍNGUAS .
INTRODUÇÃO
O dom de línguas é, seguramente, o mais polêmico dos chamados dons do Espírito Santo. Pentecostais tendem a exagerar sua importância, colocando-o como evidência necessária do batismo no Espírito Santo. Além disso, é comum que na prática as orientações sobre o seu exercício de forma ordeira sejam negligenciadas. Por outro lado, os cessacionistas negam sua atualidade, relegando-o ao tempo apostólico e considerando-o simplesmente como capacidade de falar em outro idioma terreno.
Então, qual a natureza do dom de falar em línguas?
1. ( Marcos 16:17 )
γλώσσαις λαλήσουσιν καιναίς
falarão línguas novas
O texto não diz simplesmente falarão em línguas, mas falarão em novas línguas. Embora se possa dizer que as línguas são novas em relação a quem fala, isso parece pouco provável. Seria mais lógico que se dissesse que falariam línguas que não aprenderam. Novas línguas parece indicar línguas desconhecidas.
Reforça essa hipótese o texto original. Na expressão "falarão novas línguas" o grego trás γλωσσαις λαλησουσιν καιναις, onde novas é tradução de kainos. O grego usa principalmente duas palavras para novo. Uma delas é νεος, neos, usada para expressar novo no aspecto de tempo, indicando aquilo que é recente, mas da mesma natureza do antigo.
Já kainos também indica aquilo que é novo, não porém em referência ao tempo, mas a algo que é de um tipo diferente. O léxico grego-inglês (Louw and Nida) diz que kainos refere-se a algo "não conhecido previamente, inédito, novo". Thayer diz que kainos indica "um tipo novo, sem precedentes, inédito". O Theological Dictionary of the New Testament, diz que kainos denota "o que é novo na natureza, diferente do habitual, impressionante, melhor do que o velho, superior em valor ou atração".
Percebemos melhor essa disntição entre neos e kainos em algumas passagens do Novo Testamento. Em Mateus 9:17, onde aparece ambos os termos, este tem o sentido de "ainda não utilizado", em Atos 17:21 o sentido é de "incomum" e em Mateus 13:52; Ef 2:15; 2Jo 2:5 e Hb 8:13"novo tipo" é o sentido dado.
Assim como um novo céu e uma nova terra em Ap 21:1 e 2Pe 3:13, a nova Jerusalém em Ap 3:12 e 21:2, a canção nova em Ap 5:9 e a nova criação em Ap 21:15 referem-se a algo de uma outra e melhor natureza, novas línguas em Mc 16:17 também não são os já existentes idiomas. O fato de que o antigo e o novo não poderem ser misturados (Mc 2:21-22) acentua o elemento distintivo entre o comum e o novo.
Portanto, as novas línguas não são a mesma coisa que idiomas terrenos que os que cressem iriam passar a falar, mas sim línguas novas no sentido que são distintas e mais elevadas em natureza.
( Atos 2:6 )
διάλεκτο λάλοουντων αύτώον
dialeto falado mesmo
História abreviada das operações do Espírito Santo, entre os homens, na foram a de pontos sucessivos :
1. Nas páginas do A .T ., o Espírito Santo não era outorgado como dádiva permanente. Aparentemente isso sucedia até mesmo no caso dos profetas,embora seja seguro pensarmos que os homens mais profundamente espirituais daquele período possuíam o dom do Espírito por tempos mais dilatados que o comum . (Ver Mal. 2:15 e Sal. 51:11). A operação do Espírito Santo, nos tempos do A .T ., era equivalente ao que sucede no período neotestamentário, pelo menos em termos gerais, excetuando o fato de que ele então não habitava permanentemente no crente, conforme sucede aos crentes do N .T ., segundo é expressamente ensinado nas Escrituras. No A .T . o Espírito Santo é retratado ao lutar com os homens(ver G ên. 6:3), a iluminá-los (ver Jó 32:8), a dar-lhes forças especiais (ver Juí. 14:6,19), a conceder-lhes sabedoria (ver Juí. 3:10.6:34), a outorgar-lhes revelações (ver Núm . 11:25 e II Sam . 23:2), a prestar-lhes instruções sobre a Deus (ver Isa. 11:2) e a administrar-lhes a sua graça (ver Zac. 12:10).sabedoria, o entendimento, o conselho, o poder, a bondade e o temor de de Deus (ver Isa. 11:2) e a administrar-lhes a sua graça (ver Zac. 12:10)
2. Durante a vida terrena do Senhor Jesus, a atuação do Espírito Santo acompanhava as linhas gerais estabelecidas no A .T ., com a exceção de que houve então a promessa da vinda do Espírito Santo como alter ego de Cristo, como quem haveria de dar continuidade à presença e à obra de Cristo no mundo , com o agente de sua personalidade . (Ver João 14:15-17,25,26; 15:27; 16:5-15). O Senhor Jesus e n sino u aos seus discípulos, quando de sua presença entre os homens, que o Espírito Santo
lhes seria dado em resposta às suas orações. (Ver Luc. 11:13).
3. Quando do encerramento de seu ministério terreno, Jesus prometeu que ele mesmo rogaria ao Pai, a fim de que o dom do Espírito Santo fosse amplamente outorgado aos seus seguidores. (Ver João 14:16,17).
4. Na noite do dia em que ressuscitou, Cristo de.u aos seus discípulos, no cenáculo , um bafejo preliminar do Espírito Santo , com o promessa e garantia do dom mais completo que se seguiria, ao soprar sobre eles, provavelmente no mesmo cenáculo. (Ver João 20:22).
5. No dia de Pentecoste, o Espírito Santo desceu sobre todos quantos estavam reunidos no mesmo cenáculo, num total de cerca de cento e vinte pessoas. N ão se há de duvidar que essa dádiva do Espírito envolveu mais do que os doze apóstolos, segundo fica subentendido no trecho de Atos 2:14,
como também na profecia de Joel, conforme Sim ão Pedro mencionou em seu sermão, como interpretação daquela extraordinária ocorrência, que acabara de suceder. (Ver A tos 2:16-21 e Joel 2:28-32). E essa profecia revela-nos como o Espírito haveria de ser derramado sobre toda a carne, de
modo pleno e transbordante. Os cento e vinte irmãos reunidos no cenáculo,
pois, foram os primeiros a experimentar isso.
6 . O restante da história diz respeito a como esse dom se expandiu a ponto de abarcar todos os povos: tanto aos judeus (evidentemente através da imposição de mãos, como método principal— ver Atos 8:17 e 9:17) como aos gentios (sem imposição de mãos, mas assim exerceram fé -ver Atos 10:44 e 11:15-18)
7. Todo crente deve possuir o Espírito Santo, pois de outro m odo nem crente é. Isso pelas seguintes razões: a.) Todo crente é nascido do Espírito (ver João 3:3,6 e I João 5:1); b.)Todo crente é habitado pelo Espírito (ver I Cor. 6:19; R om . 8:9-15; I João 2:26 e G ál. 4:6), e é assim que o crente se torna tem plo de Deus; c.) Todo crente possui o que se cham a de batismo do Espírito.(Ver I Cor. 12:12,13; I João 2:20,27); d.) Esse batismo é o selo de Deus que lhe assegura a obra final e completa da graça divina em sua vida.(Ver Efé. 1:13 e 4:30).
8. Mas nem todo crente é igual aos demais, na questão da experiência da presença habitadora do Espírito Santo ou da vida espiritual que ele nos concede. (Ver Atos 2:4 em comparação com Atos 4:29-31). Esses passos bíblico s mostram -nos que até mesmo os discípulos originais , que miraculosamente receberam o Espírito S anto , no d ia de Pentecoste, depois, receberam-no.novam ente, de m aneira notável. Com base nessa informação, podemos supor que não há limites para o que o Espírito Santo pode e quer fazer na vida do crente, dependendo das circunstâncias e da
obediência pessoal daquele a quem o Espírito infunde. Outrossim, nem todos os seguidores de Cristo são iguais na questão dos dons que o Espírito Santo dá, porque isso depende, por semelhante m odo, da experiência espiritual que o indivíduo tem com Deus, de sua obediência , de sua receptividade e de sua busca diligente pelas realidades espirituais.
Línguas reais, Atos 2 Sons inarticulados, ou talvez uma mistura de vários idiomas, palavras e frases individuais, juntamente com sons que não podem ser identificados com qualquer idioma, idiomas
angelicais.
As línguas no Livro de Atos—
A posição do fenômeno das línguas, no livro de Atos, obviamente é mais elevada do que aquela atribuída pelo apóstolo Paulo em suas epístolas. O livro de Atos parece ter sido a confirmação do recebimento do Espírito Santo (entre outros sinais), pois em cada caso em que o evangelho era anunciado em algum novo lugar, depois do Pentecoste no cenáculo, e em cada instância em que um novo grupo de pessoas recebia o evangelho, era também batizado no Espírito Santo, com o
acompanhamento da experiência das línguas; pelo que também parece que o autor sagrado tencionava que entendêssemos que essa experiência era a validação visível da genuinidade do batismo do Espírito Santo. Deve-se observar, por semelhante modo, e em contraste com as línguas descritas por Paulo, que no livro o fenômeno aparece como o falar em idiomas estrangeiros, que podiam ser compreendidos pelos presentes que normalmente falavam os mesmos. (Ver Atos 2:6,11). É óbvio que isso tem por intuito indicar que a confusão das línguas, quando dá construção da torre de Babel, por causa da revolta dos homens contra Deus,foi aqui REVERTIDA : Por igual modo, a uníversalidade do cristianismo foi destacada por esse fenômeno, o que é um tema tanto dos evangelhos como também deste livro de Atos. O Espírito Santo outorgou poder à igreja cristã a fim de que a mensagem de Cristo fosse levada a todas as nações, a fim de que pudesse ser um a gloriosa realidade, a redenção da hum anidade, em grande escala.
"...que falassem ..." O espírito Santo é que permitia que falassem.
Esse vocábulo, no original grego, é usado exclusivamente por Lucas, somente neste livro de Atos. Significa "declaração clara e em voz alta , sob um impulso miraculoso". Os escritores gregos posteriores empregavam esse termo para indicar as declarações feitas pelos oráculos e profetas. Na
Septuaginta (tradução das Escrituras hebraicas do A .T . para o grego), tal palavra foi usada para indicar o ato de profetizar. (Ver I Crô. 25:1; Deut. 32:2; Zac. 10:2 e Eze. 13:19). Quanto a notas expositivas sobre o Pentecoste cristão e o seu significado para nós, ver a exposição sobre o primeiro
versículo deste segundo capítulo)
Variedades D o Falar E m Línguas
1. Meios naturais (puramente humanos).
a.) Transe hipnótico: Tem sido demonstrado' em estudos realizados que,sob a hipnose, o indivíduo pode experimentar u m grande aum ento nacapacidade psíquica como a telepatia , as curas, e,algumas vezes, o conhecimento prévio. As línguas podem ser faladas por efeito telepático, em
que uma mente toma emprestado de outras, e a hipnose facilita ta experiência.
b.) O falar simultâneo: Trata-se de u m a form a de telepatia. Nos anos de 1966 e 1967, apareceu um homem na televisão norte-americana, que podia duplicar, simultaneamente, qualquer coisa que outra pessoa falasse,mesmo que o fizesse em idioma estrangeiro ou que estivesse lendo um material inteiramente desconhecido. Além disso, a distância não fazia qualquer diferença. No momento exato em que tal material fosse lido, ou que outra pessoa falasse, sem importar em que idioma, aquele homem era capaz de duplicar tudo com perfeição. (Registrado no artigo intitulado em inglês «Simultaneous Speaking», na revista Fate, de julh o de 1967).
O autor deste comentário conhece pessoalmente u m caso em que certa mulher, quand o de visita ao Brasil, embora n u n c a tivesse estudado o português, era capaz de ácompanhar, cantando, hinos que fossem entoados em português, sim ultineamente, embora não fizesse a menor idéia do que
estava cantando, e sem entrar em qualquer estado hipnótico. Era pura telepatia , o q u e, conforme estudos feitos em la b o ra tó rio , tem sido demonstrado ser u m a propriedade com um a todas as raças humanas.
c.) Estados especiais, como estados febris: Em um relato fidedigno ,contou-se como u m a arrumadeira, que trabalhava em certa universidade, ao sofrer de febre alta, podia falar em grego ou latim . As investigações feitas descobriram que ela costumava trabalhar na sala ou próximo da sala onde um professor de idiomas clássicos tinha por hábito caminhar para lá e para cá, repetindo passagens de autores clássicos. Essa form a de línguas apenas trazia do subconsciente o que lá foi entesourado pelo ouvir. O Estado especial da febre, podia ativar aquele estado novamente.
d.) Participação na mente universal: Certos estudos (apoiados por séculos de teoria filosófica) indicam que há um depósito universal de conhecimento.
A mente humana individual, sob certas circunstâncias (sobretudo em estados alterados da consciência), pode tom ar algo por empréstimo desse fundo com um , e, ao assim fazê-lo, em alguns casos, pode falar um idioma,antigo ou moderno, que nunca foram pessoalmente estudado. Não sabemos dizer se a M ente Universal é pessoal (envolvendo seres inteligentes) ou impessoal, como se assumisse a form a de algum a energia que registra pensamentos, tal como um disco pode registrar sons. As especulações sobre esse fundo com um de inteligência, retrocedem até pelo menos o tem po de Anaxágoras, 500 A .C .
A história demonstra que o fenômeno das línguas com freqüência se tem manifestado inteiramente à parte da fé religiosa, e sem intuitos religiosos de qualquer espécie. Trata-se de u m fenômeno estranho, que a psique humana pode produzir por meios puramente naturais . O s estudos feitos em
laboratório, demonstram que h á capacidades telepáticas no homem , e a experiência demonstra que as línguas podem não ser outra coisa além de um a espécie de ginástica mental.
e.) Freud afirmava que algumas vezes as línguas não p assam de palavreado sem sentido, produzido propositalmente com a finalidade de auto glorificar quem as fala.
2. Línguas demoníacas (desnaturais): Alguns casos, bem documentados, mostram que, nas igrejas, algum as vezes as línguas exprimem blasfêmias e obscenidades. Em alguns desses casos, pois, podemos ter línguas «naturais» que operam desde as profundezas da mente humana depravada. Em outros casos, por certo, forças espirituais estranhas se apossam dos homens (até mesmo no seio da igreja cristã), usando-os para proferirem suas blasfêmias.
3. Línguas angelicais: Se as línguas podem ser línguas de anjos— conforme nos diz I Cor. 13:1— então parece lógica a suposição de que podem ser in s p ira d a s pelos anjos. Isso p o d e ria fazer parte dos ministérios angelicais mencionado em Heb. 1:14. O s anjos p o d e ria m , nesse caso,
inspirar e usar os dons espirituais. Q u içá alguns de nossos homens mais poderosos sejam aqueles que possam manter-se próximos de seus anjos guardioes, recebendo deles o impulso.
4. Línguas sobrenaturais: O Espírito Santo pode inspirar línguas nos
crentes, como um sinal para os incrédulos ou com propósitos didáticos, bem
como para a edificação daquele que as fala.
A "...multidão...", neste versículo, não indica meramente a com unidade cristã inteira, e sim os homens devotos descritos no versículo anterior. A ocorrência original do fenômeno das línguas teve lugar por ocasião da descida do Espírito Santo, quando os irmãos estavam reunidos no cenáculo.
Mas a excitação que isso causou logo transbordou pelas ruas, pelas praças e lugares públicos, e o ruído causado pelo fenômeno atraiu imediatam ente multidões que acorriam de todos os lados. Algum as pessoas, dentre aqueles que foram atraídos, vieram como interessados sinceros nas coisas de Deus, querendo saber o que tudo aquilo significava. Mas, os que por natureza tinham uma atitude mental cética, nada viram de significativo em toda a ocorrência, pensando que tudo não passava da tonteira provocada pela ingestão de vinho.
Algum as traduções dizem a q u i«...quando isso foi noticiado ao redor...» o que indica que teria havido um a espécie de rumor sobre o que acontecera. (Assim diz a tradução inglesa KJ). M as outras traduções indicam que as multidões foram atraídas pelo «som» produzido pelo que ocorria; e outras
traduções, ainda, dão a entender que a atração foi exercida pelo «som» produzido pelo vento impetuoso. Naturalmente o motivo da atração poderia ter sido o ruído produzido pelas muitas vozes, da multidão que falava em tantos idiomas diversos. Alguns estudiosos opinam que a fonte de atração
foi a voz «divina», como parte da experiência mística objetiva, como parte integrante ou separada do vento impetuoso . D e fato , a palavra voz, conforme o termo traduzido aqui por «som» pode ser traduzida literalmente (conforme também fazem as traduções portuguesas A A e A C ,enquanto que
a tradução portuguesa IB prefere ruído), é usualmente usada para indicar algum a form a de elocução, e não para indicar qualquer mero «rumor» ou «ruído». (Ver Mat. 3:3; Gál. 4:30, acerca da voz humana; I Tes. 4:16 e Apo. 5:11, acerca da voz dos anjos; e M at. 3:17 e 17:5, acerca da voz divina.
O trecho de João 3:7 emprega esse vocábulo para indicar a voz ou elocução
do Espírito Santo.
"...cada um ouvia..." Havia um a ação prolongada de ouvir (pois o verbo grego está no tempo imperfeito ), em que cada q u a l dava atenção e escutava— e cada um ouvia os apóstolos falarem em seu próprio idioma, embora aqueles que falavam mui provavelmente não entendiam o significado do que diziam . Este versículo mostra de modo bem definido queLucas tencionava que os seus leitores compreendessem que estavam envolvidos idiomas estrangeiros nesse fenômeno das línguas, e não apenas declarações estáticas ou sons inarticulados, o que é outra variedade do
fenômeno do falar em línguas.O elemento do falar em línguas, na experiência do Pentecoste, contribuía para destacar a universalidade da mensagem cristã, em contraste com a expressão local, provinciana, do judaísmo. Além disso, o Espírito Santo validava a mensagem que era dita, mediante esse «sinal» das línguas, conforme Paulo deixa entendido em I Cor. 14:21,22, o que, realmente, é
citação de Isa . 28:11,12 e D e u t. 28:49. Qualquer indivíduo fica ria naturalmente impressionado ao ouvir algo dito em sua língua nativa, sem erros de gram ática, sem sotaque, de modo eloqüente, especialmente ao observar que quem falava não era de sua nacionalidade. U m a vez assim
impressionado, passaria a dar maior atenção à mensagem que se dizia; e esses elementos, juntamente considerados, torná-lo-iam favoravelmente inclinado para com a mensagem como para com o mensageiro.
A palavra traduzida aqui por «...língua...» pode significar idioma ou dialeto, e é fora de dúvida que houve ambas as coisas, posto que tanto os frígios como os panfílios, por exemplo, falavam o grego, ainda que em dialetos diferentes; e os partos, medos e elamitas falavam todos a língua persa, ainda que com variações provinciais.
( I Coríntios 12:4,10 )
χαρισμάτων γλωσσών ερμηνεία
DOM DE LÍNGUAS VARIADOS
CHARISMATA: Os «dons espirituais». Nota geral: O vocábulo grego
«charismata» («graças espirituais»), com exceção do trecho de I Ped. 4:10, é
um termo usado exclusivamente pelo apóstolo Paulo, em todo o N.T. A forma
singular dessa palavra, ou seja, charisma, é usada por esse apóstolo para
referir-se à redenção ou salvação como dom gracioso de Deus (ver Rom. 5:15 e
6:23); mas também como um dom que capacita o crente a realizar sua adoração
na igreja local (ver I Cor. 7:7); ou ainda como um dom especial que capacita o
crente a cumprir certos ministérios particulares na igreja (ver I Cor. 12:28 e ss.,
que é o tema do esboço do estudo que se segue). Quanto a passagens escritas
por Paulo, que falam sobre os «dons espirituais», ver Rom. 12:6-8 e I Cor.
12:4-11,28-30. O décimo terceiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios,
que apresenta o amor cristão como o grande motivador de toda a ação cristã,
inclui o uso dos dons espirituais. Já o décimo quarto capítulo enfatiza a profecia
como o maior dos dons, e regulamenta o emprego aos dons espirituais nos
cultos de adoração.
O dom de línguas. (Ver I Cor. 12:10,28). No livro de Atos, as línguas do
dia de Pentecoste foram idiomas estrangeiros, compreendidos por aqueles que
ouviam aos cristãos primitivos. (Ver Atos 2:8). Paulo indica que pode haver
línguas celestiais, dos anjos (ver I Cor. 13:1); mas também parece ter havido
certa espécie de êxtase, em que é proferido algo que não representa qualquer
idioma, mas que pode ser constituído apenas de «sons» (ver I Cor. 14:10-12).
No livro de Atos, as línguas têm por propósito transmitir a mensagem cristã
aos incrédulos; nesta primeira epístola aos Coríntios, visam a edificação do que
fala e da igreja (ver I Cor. 14:14-17), bem como o louvor a Deus. Em alguns
casos, pelo menos, aquele que falava em línguas perdia o controle de suas
faculdades intelectuais. (Ver I Cor. 14:14,15), ou, pelo menos, não tinha
compreensão consciente do que dizia. (Quanto à nota expositiva geral sobre as
«línguas», incluindo a exposição dos muitos problemas que acompanham esse
fenômeno, conforme é conhecido na atualidade, ver Atos 2:4. Esse comentário
examina a questão inteira das línguas). Sabemos que esse fenômeno é anterior
ao próprio cristianismo, e que nunca esteve confinado exclusivamente à igreja
cristã, nem no princípio e nem em tempo algum; por igual modo, nem sempre
esteve limitado a algo de caráter religioso ou espiritual. As línguas, como é
possível, seriam puramente meios telepáticos.
Paulo se refere àqueles que falam em línguas, sem intérprete, o que,
evidentemente, era uma prática comum na igreja de Corinto (ver os
versículos vinte e sete e vinte e oito deste capítulo); porque falar em línguas,
como interpretação, eqüivale à profecia. Nesse caso, aquele que fala em
línguas não é inferior àquele que profetiza (ver o quinto versículo deste
capítulo).
«...ninguém o entende...» Assim sendo, no que diz respeito à edificação,
quem fala em línguas é nulo, fazendo-o sem propósito, se pensarmos na
edificação alheia. Quem fala em línguas edifica somente a si mesmo. Mas
isso quem fala em línguas pode fazê-lo privadamente, não desperdiçando o
tempo do culto de adoração; e essa norma Paulo recomenda no vigésimo
oitavo versículo deste capítulo.
Este versículo não prova que não são usados «idiomas estrangeiros»
quando alguém faia em línguas, idiomas antigos ou modernos, de homens
ou de anjos; e isso porque o falar em línguas ocorre no nível da alma e se
eleva para Deus, em uma espécie de comunicação espiritual com o ser
divino. O fato que as línguas podem ser «interpretadas» (ver os versículos
quinto e vigésimo sétimo), mostra-nos que elas devem ser, em sua maior
parte, idiomas «coerentes» de alguma espécie. É algo inteiramente fora do
alvo pensar em interpretação de «sons incoerentes», como se tudo se
resumisse numa descarga de emoção. Tal descarga certamente não teria
qualquer interpretação lógica.
«...fala mistérios...»Aquele que fala em línguas diz «...mistérios...», mas
isso não apenas no sentido que é deixado sem interpretação. O que Paulo
queria dizer é que aquele que fala em línguas diz revelações profundas,
emite profundas verdades espirituais, interpretações de verdades espirituais
conhecidas, mas de alguma natureza incomum. Nas Escrituras, um
«mistério» é ordinariamente uma verdade divina qualquer, antes oculta,
mas agora revelada. Os mistérios paulinos em nada se assemelhavam aos
mistérios dos cultos gregos, que só eram desvendados para alguns poucos
iniciados nessas religiões misteriosas. Antes, para Paulo eram «segredos
abertos», verdades divinas acerca de questões importantes, para que todos
pudessem compreendê-las.
Nem mesmo o dom de línguas, desacompanhado de interpretação, deixa
de ter seu devido propósito. As línguas podem servir de meio de edificação
própria, no nível da alma, ainda que a mente não entenda o que é dito. As
línguas são um meio de entrarmos em contacto com o divino, ainda que o
conhecimento não se beneficie. As experiências místicas, até mesmo
aquelas da mais elevada ordem, geralmente são inefáveis, isto é, sua
natureza e seus resultados não podem ser bem expressos verbalmente. Não
obstante, tais experiências produzem um efeito «purificador», um efeito
elevador, um efeito até mesmo transformador.
POSTERIORMENTE: EXERCÍCIO DO DOM DE LÍNGUA ( χαρισμάτων γλωσσών ερμηνεία )
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